Ambiente Crônica

COP26: O desafio das mudanças climáticas em STP

COP26: Mudanças climáticas.
Imagem: Reprodução FB Presidência da República

O Pacto Climático de Glasgow, adotado por quase 200 países após duas semanas intensas de negociações, não alterará radicalmente o cenário global sobre as mudanças climáticas. Ele fornece avanços importantes, no entanto.

Para começar, reconhece a emergência climática global e a extrema preocupação de que as atividades humanas causaram cerca de 1,1 ° C de aquecimento global até o momento. Estes impactos já se fazem sentir em todas as regiões.

São Tomé e Príncipe (STP), um país africano composto por duas ilhas, descobertas em 1470 e 1471, respetivamente, com aproximadamente 551 anos após descobrimento, perdeu cerca de 4% do território como consequência das mudanças climáticas. Uma situação que poderá agravar-se, se não houver uma mudança de comportamento por parte da Humanidade. As ilhas poderão desaparecer a um dado momento.

COP26 São Tomé e Príncipe
Presidente Vila Nova discursa na COP26. Imagem: Reprodução FB Presidência da República

O Compromisso de São Tomé e Príncipe

Visto que os resultados da COP26 são compromissos, eles refletem os interesses, as contradições e o estado da vontade política no mundo de hoje. Neste COP26, STP recusou o compromisso de reduzir as emissões de metano e afastar do carvão, mas, comprometeu-se a interromper o desmatamento até 2030. Entretanto, seria importante refletir sobre as seguintes questões:

Como conseguir iniciativas limpas e verdes para apoiar a implantação de soluções sustentáveis? Como África, e, em particular, STP vai alcançar emissões líquidas zero até meados do século?

Essas são duas questões básicas que se coloca após o COP26 em Glasgow, atendendo que desde da Revolução Industrial em 1760, com a transição para novos processos de manufactura na Grã-Bretanha, na Europa continental e nos Estados Unidos.

Transição esta que incluiu a passagem de métodos de produção manual para máquinas, novos processos de fabricação de produtos químicos e de produção de ferro. O uso crescente de energia a vapor, não somente, levou a um aumento sem precedentes na taxa de crescimento populacional bem como a emissão de gases com efeito estufa na atmosfera.

Só os Estados Unidos de América respondem por 25% dos poluentes históricos que temos agora. Poluíram para desenvolver suas economias. Mas como ficam os países africanos que pretendem desenvolver as suas economias, uma vez que se fala de energia verde e poluição líquida-zero? É possível desenvolver sem poluir? Devem as grandes potências mundiais como os EUA, China, Japão e a Europa subvencionar os países africanos pelos danos causados ao meio ambiente?

Após 261 anos de revolução industrial é notável a consequência para o planeta. Embora muito tarde, é certo que as medidas corretivas já se fazem sentir em muitos países do mundo, para a redução e controlo de emissões de carbono no ambiente.

Como, por exemplo, transição de produção energética de fonte fóssil para fonte renovável e transição de veículos automóveis a combustível para elétricos e outras transições amigas do ambiente, atendendo que os combustíveis fósseis respondem por mais de 80% do fornecimento total de energia mundial, segundo o balanço de 2020 da Agência Internacional de Energia (AIE).

África e as mudanças climáticas

África ainda tem muitos problemas imediatos que precisam ser resolvidos. Precisa unir as forças e parar de lutar contra si mesma, garantir água potável para toda população, melhorar os serviços de saúde disponibilizados a população, permitir que cabos elétricos passem por todo o continente para que cada um possa transformar matérias-primas e crie riquezas para o continente.

A própria África contribui bastante para limpar o ar do CO2, a bacia do Congo, por exemplo, é a segunda maior floresta tropical do mundo, depois da Amazónia. As árvores são muito mais altas e densas, então o conteúdo de carbono da floresta tropical africana é quase o dobro da Amazónia.

Portanto, em termos de mudanças climáticas, a floresta tropical africana / Bacia do Congo é duas vezes mais importante do que sua área de superfície. Há uma ligação clara entre a floresta tropical de República Democrática do Congo (RDC) e as chuvas na Etiópia. Logo, se cortarmos as florestas da RDC, não apenas colocaremos mais CO2 na atmosfera, mas a Etiópia também perderá suas chuvas.

É provável que a mesma relação se aplique ao Gabão, ao Congo e ao Sahel. Em todos os modelos de floresta tropical, está previsto que nos próximos 20 a 30 anos, o Sahel perderá metade de sua queda de chuva, por causa das mudanças climáticas. Daí que, temos uma responsabilidade na Bacia do Congo, na RDC, no Congo e no Gabão, porque sabemos que o povo do Sahel sofrerá grandes consequências e a perda irreparável se cortarmos a floresta tropical.

A Noruega, através da Iniciativa Internacional Climática e Florestal da Noruega (NICFI) apoia o esforço para salvar a floresta tropical africana através da Iniciativa para as Florestas Tropicais da África Central (CAFI). Mas, a questão que se coloca é: Quem são os beneficiários da RDC e das várias extrações que causam poluição e contaminação do solo, da água e do ar da RDC? Parecem ser as mesmas pessoas que falam sobre as mudanças climáticas.

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Imagem: Reprodução Tela Non

 

“Erradicar a pobreza, combater a desigualdade e enfrentar as mudanças climáticas”

Em 2015, todos os 192 estados membros das Nações Unidas se uniram para se comprometer a cumprir 17 metas globais ambiciosas voltadas para “erradicar a pobreza, combater a desigualdade e enfrentar as mudanças climáticas”.

A amplitude dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) visa proporcionar um desenvolvimento sustentável para todas as pessoas e aspetos dos negócios e mudar a forma de pensar que terá um impacto positivo nas pessoas e no planeta até 2030.

Embora a ambição e o ímpeto para atingir as metas tenham crescido, ainda há muito a fazer. O verdadeiro desafio reside onde o progresso não é tão facilmente alcançável, incluindo questões globais sistémicas complexas, como mudança climática e perda de biodiversidade, particularmente em África, e, francamente, estamos ficando sem tempo.

Já entramos numa década de ação, de 2020 a 2030, onde as ambições e os planos têm de se tornar realidade. As promessas tradicionais sem ação simplesmente não nos levarão lá com rapidez suficiente, especialmente em um momento em que a sociedade está cada vez mais fragmentada e com o combate contra COVID-19.

Já se passaram seis anos desde o acordo global de Paris, mas as promessas ainda nos levam a um mundo perigoso de aquecimento global de 3ºC no final deste século. Chegar à economia de “emissões líquidas zero”, da qual os governos de todo o mundo se comprometeram, exigirá uma transformação radical de todos os setores da economia. A indústria pesada, nossas redes de energia, transporte, alimentos e agricultura, edifícios/cidades e produção/consumo precisarão passar por uma rápida descarbonização.

STP, em particular, não tem um meio adequado para separação, tratamento e reciclagem dos resíduos, as fontes energéticas são produzidas mais de 90% através de combustível, com geradores altamente poluentes adquiridos na Europa, as habitações são feitas pondo em causa o meio ambiente (extração de arreias nas praias e corte das árvores), maiorias dos veículos ligeiros e pesados são de 2ª, 3ª ou 4ª mão e os mesmos estão proibidos de circular na Europa. Todavia são os países europeus que exportam esses mesmos veículos para África, particularmente, para STP. Pode-se perguntar, qual será a contribuição/responsabilidade de STP para questões relacionadas com mudanças climáticas?

Com uma nova década se aproximando, há agora um chamado mais do que nunca para abordar os desafios globais em proliferação que nosso planeta enfrenta. Os governos não podem mais lutar esta batalha sozinhos e precisam de indivíduos e empresas para agir e entregar uma agenda que forneça um caminho sustentável para o planeta e a sociedade.

Claramente, essa não é uma tarefa fácil, então, como os móveis e imóveis podem se conectar e se relacionar com os desafios globais? E como os proprietários, operadores e ocupantes dos mesmos podem supervisionar seu impacto potencial a longo prazo?

Embora a COP26 não tenha entregado toda a gama de ambições necessárias para lidar com as mudanças climáticas, ela forneceu muitos inputs para ações futuras.

“Estamos na luta pela vida, é possível atingir os objetivos, basta não desistirmos e lutar sempre, o COP27 começa agora”, disse o Secretário-Geral das NU, António Guterres.

Sobre o Autor

Um são-tomense na China

Disney Leite Ramos é um Candidato à Ph.D. em uma das melhores Universidades em Shanghai-China (Tongji University), com interesse na área de pesquisa no domínio da Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Com mais de 8 anos de experiência no setor bancário como auditor, possui grande experiência em informações e análise financeira e boas práticas de conformidade bancária. Enquanto faz seu Ph.D., colabora com a QUALO Global como consultor de negócios com responsabilidade em comércio internacional e desenvolvimento de novos mercados na África. Especialista em finanças corporativa, análise de mercado e estratégia de negócios.

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