Em São Tomé e Príncipe, onde a sétima arte luta por um espaço permanente e significativo, a ausência de salas de cinema comerciais deixa um vazio palpável no coração cultural do país. Temos o Cinema Marcelo da Veiga que, há anos, deixou de ser um cinema.
O edifício Marcelo da Veiga foi construído em 1950, tinha capacidade para mil espetadores. Alguns anos após a Independência de São Tomé e Príncipe em 1975, tal como muitas outras infra-estruturas do país, também foi abandonado e em 1993 deixou de funcionar.
Há muito deixou de ser o pólo cultural, sobre o qual cresci a ouvir os meus pais contarem histórias. Eles lembram-se com nostalgia das sessões da tarde que iam com frequência quando eram apenas um casal de jovens namorados. Contam que as sessões naquele tempo eram muito animadas pelos espetadores que “jogavam bancada”. A emoção era tão grande que parecia que todos estavam no filme. Desde pessoas a gritarem para que o protagonista fugisse a pessoas que já tinham visto o filme mais de uma vez e faziam questão de anunciar o que sucederia na cena seguinte.
Existe toda uma geração que nunca experienciou assistir a um filme numa sala de cinema. No entanto, iniciativas como o “Cine Brasil” têm desempenhado um papel crucial em manter viva a chama do cinema entre os são-tomenses.
O Papel do Instituto Guimarães Rosa
A estudante, Erica Patrícia, recomenda as sessões “Cine Brasil” porque para além de serem gratuitas, é possível ir acompanhado por familiares, amigos ou parceiro.
“Aqui em São Tomé não tem mais cinema e assistir um filme em casa não é a mesma coisa que ir a um cinema com amigos ou até mesmo família. E depois é uma forma de ir passear, passar tempos de lazer fora de casa. Além disso, é um lugar confortável, com todas as condições necessárias para tirarmos proveito do filme, é acessível porque não se paga e ainda por cima oferecem pipocas. O número de pessoas que vão assistir tem aumentado. É algo diferente, e naturalmente todos vão querer experimentar. A curiosidade para saber o que é isso de ir ao cinema, estar lá, proporcionar isso às pessoas, é mesmo digno de elogios.” – disse Erica Patrícia.
Próxima Sessão: Deus é Brasileiro
Todas as sextas-feiras, às 18 horas, o Instituto Guimarães Rosa São Tomé transforma-se num oásis cultural. O projeto “Cine Brasil” tem oferecido à comunidade a oportunidade de explorar a vasta e diversificada filmografia brasileira. Na próxima sexta-feira, a comédia “Deus é Brasileiro”, protagonizada pelos icónicos António Fagundes e Wagner Moura, promete trazer risos e um momento de descontração para as famílias e amantes do cinema.
De acordo com Cynthia Tiny, que trabalha no mundo corporativo, o “Cine Brasil” tem sido “uma experiência interessante e a melhor forma de terminar o dia depois de uma semana intensa de trabalho, com um toque de doçura nas pipocas.”
O “Cine Brasil” não só preenche o vazio deixado pela falta de infraestruturas de cinema no país mas também constrói pontes culturais entre São Tomé e Príncipe e o Brasil. A atmosfera acolhedora e a oferta de pipocas gratuitas criam um ambiente onde é possível apreciar a arte do cinema num contexto informal e inclusivo.
Todavia, o impacto do ‘Cine Brasil’ vai além da simples exibição de filmes. Segundo Dério Quinto, um frequentador assíduo, essas sessões são “uma alternativa para mim que sou amante de filmes brasileiros. Esta iniciativa é de salutar e de continuar.”
Num país onde o orçamento para a cultura é praticamente inexistente e as produções cinematográficas nacionais são raras, o “Cine Brasil” oferece uma janela vital para a expressão artística e o diálogo cultural. São Tomé e Príncipe, apesar de estar à anos-luz de distância do desenvolvimento cinematográfico comparado a outros países, está lentamente a ganhar terreno graças à persistência dos seus criadores e iniciativas como esta.
O quê: Sessão do Cine Brasil com a exibição de “Deus é Brasileiro”
Quando: Sexta-feira, às 18 horas
Onde: Instituto Guimarães Rosa São Tomé
Entrada: Gratuita
Oferta: Pipocas
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