Jéssica Lima é filha de pais sãotomenses. Nasceu em Lisboa, mas cresceu em São Tomé. Durante a sua infância e adolescência sempre se sentiu diferente dos seus amigos.
“Sempre me senti um pouco fora do lugar por gostar de artes.” – confessou a artista.
A artista contou ao STP Digital que até hoje se sente como uma outsider, fora da caixa. No entanto, aprendeu a abraçar a sua diferença e a almejar mais do que a sociedade impõe.
“O mundo seria um pouco chato se fossemos todos iguais.” – disse Jéssica Lima
Ela acredita em energias, e tenta estar sempre atenta as energias que passa para as outras pessoas e tenta “trazer um pouco mais de leveza ao mundo”.
“Eu sou uma eterna apaixonada, posso dizer, mas por vezes muito rigorosa comigo mesma.” – acrescentou.

Cinema
A sua relação e primeira referência do cinema surgiu com os filmes de Charlie Chaplin. “É isso que quero fazer quando crescer”. Pensou quando viu os filmes de Charlie Chaplin, ator, diretor, roteirista, e cineasta britânico.
O sonho de ser atriz foi alimentado mais tarde pelas novelas brasileiras. Para além disso, Jéssica desenvolveu o gosto por escrever guiões. A sua relação com o cinema consolidou-se durante os seus anos na universidade, onde aprendeu a representar e a filmar.
“Eu sempre disse que nunca seria diretora de cinema, por causa da enorme responsabilidade que é, mas hoje cá estou e tem sido muito, muito prazeroso”, admitiu Jéssica.
Os seus trabalhos mais notáveis incluem o papel de Sra Soames em “Our Town” por Thornton Wilder e a curta-metragem “Meninas Negras São Mulheres Também”, nos papéis de atriz, realizadora e guionista.

O primeiro documentário
“Chama-me Maria”, é o título do seu primeiro documentário, que retrata a problemática do feminicídio em São Tomé e Príncipe. Baseado na história da Maria de Lurdes, uma santomense que foi vítima do próprio marido. O documentário já se encontra na fase de pós-produção.
“Eu soube da história porque estava a cobrir o protesto, e não tinha como não me emocionar com a história dessa família. Dessa, como muitas outras histórias de mulheres como a Maria. Foi difícil me inteirar por completo dessa história, porque por vezes me perguntei “porquê que estou a fazer isso? A história deles é pesada de mais, é muita dor, muita tristeza”, o que também já me estava a consumir psicologicamente. Mas tive de voltar ao porquê que quis contar esta história em primeiro lugar. É por eles, pela família, pelos filhos de Maria”, disse a realizadora.
Com o documentário Jéssica pretende dar foco a esta problemática, o feminicídio, e espera também conseguir apoios para os familiares da Maria de Lurdes, pois eles “estão completamente desamparados”.
Além dos familiares da Maria, Jéssica procurou entrevistar entidades competentes como a activista social e ex-ministra da justiça Elsa Pinto, Drª. do Instituto Nacional de Comoção da Igualdade do Género Ernestina Menezes, actor e activista Ângelo Torres, juiz Dany Nazaré (encarregado do caso da Maria de Lurdes), Comandante da Polícia de Lobata Isac Penhor,
ex-diretora do Centro de Aconselhamento Contra Violência doméstica Elsa Lombá, entre outros.
“O caso da Maria de Lurdes ainda está muito vivo na memória das pessoas, porém o termo feminicídio é que sinto que ainda há alguma resistência em falar dele como tal, mas acredito que é pelo desconhecimento do que é feminicídio, sendo uma terminologia inutilizada em STP, espero que com o documentário possa esclarecer esta temática”, disse Jéssica Lima.
Rodagem
Rodar um filme em São Tomé e Príncipe ainda é um grande desafio. Para a realizadora foi muito stressante, mas prazerosa.
“Não pensei que fosse ser tão prazerosa assim. Há essa noção que documentários têm que ser como uma aula aborrecida de história, mas não é, documentários são divertidos de fazer também. A rodagem correu bem no geral, houve muitas vezes que pensei que não conseguisse fazer tudo, pois trabalhei como realizadora e produtora do filme, não foi fácil, mas como disse, valeu a pena”, contou Jéssica Lima.
Sobre as dificuldades, Jéssica conta que foi difícil conciliar os horários com entrevistados. Houve também alguma resistência em convencer os entrevistados a falarem para a câmara no princípio, especialmente sobre um tema tão sensível e um caso tão polémico que foi o assassinato de Maria de Lurdes.
“Mas com jeitinho, estabelecendo uma relação de confiança com eles, viram que é benéfico e frutífero falar de temas mais complicados de modo a educarmos a população e trazer mudança para certos problemas sociais”, explicou a artista.
Sobre o filme “Chama-me Maria” a realizadora diz que é difícil ter expectativas quanto a reação da população.
“Eu acredito que as pessoas poderão estar divididas em relação à temática, como disse, é algo muito novo pra nós, mas acima de tudo, espero que as pessoas se conectem com a história dessa família”, acrescentou Jéssica.
Jéssica pretende continuar a fazer cinema em relação ao seu primeiro documentário sente que está a fazer a sua parte.

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