Um ano depois de “Leonor”, Pedro Sequeira de Carvalho vai lançar um novo livro. “Nós temos sonhos” será lançado esta quinta feira, em Lisboa.
Depois de nos surpreender com a sua primeira obra em fevereiro de 2017, o advogado e também professor de formação cívica Pedro Sequeira de Carvalho (33 anos), prepara-se para lançar um novo romance: “Nós temos sonhos”, que será apresentado pelo comentador Abílio Bragança Neto, no IPDJ – Instituto Português do Desporto e da Juventude, em Lisboa. O lançamento em São Tomé está previsto para janeiro de 2019.
Brevemente o romance tal como o seu primeiro lançamento estará disponível no Arquivo Histórico de São Tomé, na Mediateca do BISTP, no Centro Cultural Português, na Loja da Santa Casa da Misericórdia e no Liceu Nacional. Em Portugal, pode encontrar nas lojas FNAC. Para aqueles que fazem questão de uma cópia autografada podem fazer a aquisição diretamente com o autor.
No seu primeiro romance “LEONOR”, o autor fala sobre o valor da família e da virtude feminina. “Virtudes essas que servem de guardiã dos valores sociais. Eu falo um pouco do celibato na Igreja Católica, da humanização dos padres e do seu papel terreno”, disse o autor. Já em “Nós Temos Sonhos”, Sequeira de Carvalho aborda um tema muito delicado: a prostituição. Através de duas personagens de estratos sociais completamente diferentes, que se relacionam, o autor demonstra como uma boa ação pode mudar a vida de outras pessoas, e como o mesmo acontece com uma má ação. “No livro abordo as situações da sorte e dos infortúnios nas nossas vidas. Das circunstâncias sociais que condicionam as realizações dos nossos sonhos, acabando por nos empurrar para caminhos não desejados. Algumas pessoas não conseguem, à tempo pretendido, realizar os seus sonhos, apesar disto, não o matam, muito pelo contrário, o mantem vivo dentro de si até que um dia a oportunidade lhes bata à porta. Devemos viver com a consciência de que todas as pessoas têm os seus sonhos.”
STP Digital – Quem é Pedro Sequeira de Carvalho?
Pedro Sequeira de Carvalho – Eu tenho muitas dificuldades em falar de mim. Quando vejo outras pessoas a fazerem isso até fico surpreso por elas verem em mim muitas qualidades que eu nem sabia que tinha. Sei que vou pecar pela insuficiência, mas vou arriscar em dizer algumas coisas: sou solteiro, pai de um casal de filhos. Filho de uma mãe doméstica, antiga camponesa e de um pai funcionário da Empresa de Água e Eletricidade (EMAE). Tenho um número incontável de amigos. Sou amigo de todos os meus amigos e até dos que não são meus amigos. Sou uma pessoa dedicada ao associativismo, voluntariado e um pouco à política. Acredito nos valores cristãos, sou um idealista e amante da cultura sãotomense. Um nacionalista contemporâneo. Pessoa de fácil relacionamento. Gosto de trabalhar em equipa. Vivo de pessoas, com pessoas e para pessoas. Tenho uma alegria e um otimismo contagiantes. Gosto de dançar e de escrever músicas. Tenho cerca de três dezenas de músicas escritas. Sou um bom comunicador, sinto-me bem falando em público. Gosto de ler. Já li várias centenas de livros de todos os géneros. Tenho um livro poético escrito, composto de poemas em Português e em Santomé. Um dia ei-de publicá-lo. Gosto de bisca 61, de izaquente de açúcar e de calulú de galinha.
STP Digital – Como e quando surgiu a vontade de escrever?
S. Carvalho – Não sei. Eu julgo que sempre escrevi, mas os primeiros escritos de que tenho memória, eu ainda estava na 9ª classe. Tinha na altura 14, 15 anos. Eram cartas que alguns amigos meus, todos mais velhos que eu, me pediam para escrever. As cartas eram para eles enviarem às namoradas e apaixonadas. Eles sempre ficavam felizes, porque as cartas sempre surtiam bons efeitos. Já na 10ª classe, eu escrevi os meus primeiros poemas. Era a primeira vez que o meu coração batia mais depressa por alguém. Naquela altura eu escrevia o que falava e falava o que escrevia, porque faço as duas coisas com a mesma facilidade, ou se calhar, falo com maior prazer do que escrevo. Mas o meu primeiro escrito organizado foi talvez em 2002, 2003. Foi quando eu escrevi um livro poético para participar no concurso FRANCISCO TENREIRO.
STP Digital – Como fez a escolha do título do seu novo romance?
S. Carvalho – Antes de escrever a primeira letra deste novo romance, eu já tinha o seu título. O título estava claro na minha mente como água cristalina. Não havia outra expressão que servisse melhor como título deste livro.
STP Digital – Quanto tempo levou a compor a obra?
S. Carvalho – É muito difícil para mim dizer quanto tempo que levei para escrever este livro. Se levarmos em conta a partir do dia em que eu escrevi a primeira página talvez seja entre nove a onze meses. Mas se considerarmos o facto que despertou na minha consciência a vontade de escrever este romance, o mesmo aconteceu desde novembro de 2013.
STP Digital – Já está a escrever outro livro?
S. Carvalho – Sim. Entretanto nos últimos dias eu não avancei muito, mas é um livro para ser concluído e quiçá lançado no próximo ano. Já tenho o título e a ideia completa. Aliás eu tenho ideias completas de três próximos livros meus e julgo que depois deles, eu farei um pequeno intervalo.
STP Digital – Qual a maior dificuldade que enfrentou para publicar os seus livros? Como superou essa situação?
S. Carvalho – Pagar a editora. Escrever me dá um grande prazer, mas a fase da publicação é complicada. Se eu pudesse, não enfrentaria esta fase. É como ter pão e ir implorar aos outros para te doarem os dentes.
Eu superei essa questão graças aos amigos. Os amigos são os meus maiores tesouros. Eu vivo por eles e nas alturas que preciso, eles também vivem por mim. Ao publicar esses dois romances, cheguei à uma conclusão: “Bem-aventurados aqueles que têm amigos de confiança.”
Eu nunca contei, em dinheiro, com algum apoio institucional. Todos os apoios com que tenho contado são dos amigos e amigos dos amigos que acreditam em mim. Quando falo de amigos, falo de amigas também, como é óbvio.
STP Digital – Como é que se sente em relação à receptividade das pessoas às suas obras?
S. Carvalho – Muito bem. Falo isto, sobretudo, dos sãotomenses que vivem em São Tomé e Príncipe. Para muitas pessoas, “Leonor” foi o primeiro que compraram e leram na vida. Quando eu ouço esses testemunhos, fico feliz. Mas eu sinto que tem faltado mais publicidade da minha parte. Se houvesse mais publicidade, os livros seriam mais vendidos. Mas para quem conhece a nossa realidade, sabe os outros fatores que levam as pessoas à não comprarem um livro. Entretanto sei de alguns professores que têm feito os seus alunos, tantos liceais como universitários, trabalharem com o meu livro. Tudo isto serve para que esses romances sejam mais conhecidos.
STP Digital – E-book ou impresso? Porquê?
S. Carvalho – As duas formas. Para alargar o leque de opções. Estamos na era digital. Eu também sou um leitor dos livros disponíveis nesses dois formatos. E-book é até ainda mais barato.
STP Digital – Filme ou livro? Porquê?
S. Carvalho – De longe, ler um livro. Mas há bons filmes que são melhores do que maus livros. Eu prefiro ler um livro, porque aprendo mais lendo um livro do que assistindo um filme. Eu não faço nenhuma dessas atividades por mero prazer, por isso que sigo o princípio da utilidade.
STP Digital – Tem algum autor sãotomense preferido? E estrangeiro?
S. Carvalho – O autor sãotomense que prefiro é Rafael Branco. O estrageiro é o escritor americano Dan Brown.
STP Digital – Fale-nos um pouco do seu processo criativo. No que se inspira? Como cria as personagens?
S. Carvalho – Eu me inspiro na realidade social, económica, política, filosófica, psicológica, cultural e religiosa sãotomense. A minha maior preocupação é a sociedade sãotomense, é cada sãotomense. Sou influenciado pelo meu idealismo. Os meus livros criticam o mal e almejam o bem, numa perspetiva de que o bem de São Tomé e Príncipe é o bem para todo mundo.
Muitos conseguem ver o seu “eu” ou o “eu” de alguém que os rodeia, nas personagens dos meus livros. Eu crio as personagens na base do agir social. Eu sou um observador atento. Devido a escrita tornei-me num observador muito perspicaz. Dou atenção aos pormenores que passam despercebidos à maioria das pessoas. Observo tudo, em todos os lugares e em todos os momentos.
STP Digital – Como é um típico dia na sua vida?
S. Carvalho – De segunda a sexta feira, acordo entre às 4 a 5 horas da manhã, leio e ou escrevo. Das sete às nove ou dez horas, dou duas ou quatro aulas na escola Secundária de Bombom. Em seguida, o resto do dia é dedicado à advocacia. A advocacia me absorve quase todo o dia e todo tempo, por isso todo o resto que faço durante o resto do dia é um intervalo. Nesse sentido, há dias que tiro um intervalo de duas horas ou menos, entre às dezasseis e dezoito horas para a escrita. Há dias em que eu escrevo, há dias que dito e há dias que só me dedico à investigação. Por volta das dezanove horas é a hora de regresso à casa ou ir ao encontro dos amigos. Entre amigos, conversamos de tudo um pouco, mas a política é a ementa que nunca falta. Em casa eu nunca paro de trabalhar, mas faço aqueles que requerem menos concentração. Gosto de estar diante da televisão, mas só presto atenção nos programas noticiosos ou desportivos. Raramente gosto de ficar a fazer somente uma coisa, por isso que tenho sempre um livro aberto e o computador ligado. Antes de ler, sempre leio ou escrevo alguma coisa. Deito me por volta das vinte e três horas
Aos fins de semana, aproveito para dar um pouco do meu tempo à União dos Jovens para o Desenvolvimento de Montalegre (UJDM), uma associação não lucrativa, dedicada ao desenvolvimento de Montalegre, zona onde resido desde a minha nascença. Visito alguns familiares e amigos. As minhas melhores horas são passadas com a minha avó paterna de nome Juliana. Tem mais de 90 anos e é um manancial de bons conselhos para a vida. Jogo à bola para transpirar. Jogo bisca 61, um jogo de cartas tipicamente são-tomense. É a minha principal atividade de lazer.
STP Digital – Qual é o seu maior sonho?
S. Carvalho – Ver cada sãotomense a amar mais São Tomé e Príncipe.