Aos 44 anos, Edner Ramos comanda a fábrica de chocolates artesanais “Cloçon Téla”, na Vila Dolores, em plena capital santomense. Chocolate 100% artesanal e nacional, que segue o conceito bean to bar, ou seja, compram grãos de cacau e controlam todo o processo até a criação das barras.
Edner José Silva dos Ramos, santomense, geológo de formação, com experiência em prospeção mineira em Angola. Em 2012, começou a empreender no setor do turismo e hotelaria em São Tomé com a Sweet Guest House, um dos alojamentos mais procurados da capital.
Há 2 anos, em plena pandemia, o operador turístico decidiu reinventar-se e começou a fazer chocolate em casa. Foi assim que o projeto da fábrica de chocolate artesanal começou a ser implementado, e nasceu a marca Cloçon Téla.
Aos poucos, Edner profissionalizou-se. Durante as férias do ano 2021, fez uma formação com o pai da sua esposa e sócia, que lhe permitiu consolidar alguns conhecimentos e desenvolver outros.
“Esta formação permitiu-nos sobretudo reforçar as nossas capacidades na temperagem do chocolate – a sua etapa mais sensível”, contou.
No entanto, a sua história com o chocolate começou desde miúdo.
“Sempre conheci o meu pai a plantar cacau enquanto responsável de produção das roças, um pouco por todo o país. Por isso, plantar, colher, quebrar e fermentar cacau foi algo que cresci a ver e de que guardo boas memórias”.
E, a sua esposa, que é também sua sócia cresceu a ver o seu pai na pastelaria, no meio dos bolos, mas também do chocolate e da sua transformação em esculturas, bombons, trufas, etc.
Segundo Edner, a “Cloçon Téla” é uma fusão disso. “Cloçon Téla aparece primeiro porque nós estamos no centro do mundo, na linha do Equador. E, também porque o cacau foi o coração da economia do país, abrindo portas ao mundo e ao sustento dos agricultores. Para além do cacau e a mais um cruzamento, o filho do especialista do cacau e a filha do chocolatier.”
Entretanto, e fruto do desenvolvimento do negócio, vão participar numa formação que se realizará em Itália, nesta Gravana, precisamente na fábrica que produziu algumas das máquinas que utilizam no processo de transformação.
O chocolateiro contou-nos que o sonho de ter uma fábrica de chocolate era do seu pai e passou a ser seu também.
“Eu acredito que não é um sonho só meu, qualquer santomense se pudesse seria chocolateiro. Nós crescemos num país onde o cacau é a nossa principal produção agrícola. É um sonho quase nacional, que eu tenho a oportunidade de realizar.”
Mas tirar o sonho do papel tem os seus custos. Edner já investiu cerca de 60 mil euros sem recorrer a empréstimos ou financiamentos. Contudo, o empresário tem consciência que ainda terá muitos desafios pela frente.
“A indústria do chocolate, mesmo artesanal, ainda exige um grande investimento. As máquinas principais são caríssimas. Estamos a trabalhar com dinheiro próprio, nesse momento por preferência.”
As receitas têm alto teor de cacau e usam apenas ingredientes nacionais. O portfólio da Cloçon Téla já conta com 4 variedades.
No entanto, a marca não quer apenas fazer e comercializar chocolate. Parte da sua filosofia é contribuir para a valorização da qualidade do cacau de São Tomé e Príncipe, através de uma produção artesanal e sustentável (tanto a nível ambiental, como social e economicamente).
“Esta valorização passa também pelo reconhecimento nutricional do cacau – um superalimento, muitas vezes diabolizado pelo número de aditivos desnecessários e pouco saudáveis que são adicionados. Tendo um produto de elevada qualidade, um tesouro que a natureza nos oferece, acreditamos que o devemos preservar e enaltecer”, disse Edner.
Por isso, optaram pela produção artesanal – que se caracteriza pela produção e controlo de qualidade de produção desde os grãos de cacau até ao chocolate – o que inglês se designa correntemente por “bean to bar”.
Para Edner ser o primeiro santomense a produzir chocolate é motivo de orgulho. “Sobretudo porque que é um investimento próprio, que iniciou pouco a pouco, mas que mostra que quando há vontade, interesse em aprender e esforço, tudo se consegue.”
O empreendedor tem particular orgulho em valorizar São Tomé e Príncipe e os nossos recursos naturais de forma sustentável.
“Duas das nossas metas a médio prazo são tornar a nossa embalagem totalmente biodegradável e começar a comercializar variedades de chocolate com inclusão de frutas locais nas suas mais variadas formas.”
Edner contou ainda que está a criar um chocolate com identidade santomense. “Já temos pelo menos 3 produtos que achamos bons. Mas eu posso dizer que ainda não cheguei ao produto que pretendo.” Tive a oportunidade de provar uma destas criações: chocolate com framboesa da Roça Saudade. Uma autêntica explosão de sabores.
A longo prazo, a Cloçon Téla está a trabalhar com alguns parceiros e amigos para exportar para a Bélgica e Países Baixos. “Sabemos que embora são bons em chocolate, mas é um mercado também acessível a produtos de São Tomé e Príncipe do género.”
Edner acrescentou ainda que futuramente pretendem projetar uma fábrica maior e empregar mais pessoas. Neste momento, todo o processo de fabricação de chocolate é feito por ele mais um assistente que está em formação. Também está a formar mais uma colaboradora.
“Vamos iniciar a formação nos processos básicos assim sucessivamente porque a minha intenção é passar o pouco que já sei para mais pessoas.”
O chocolateiro acha importante que todos apoiem a produção nacional e os empreendedores nacionais para atingirmos o desenvolvimento económico do país. “Posso ser o primeiro santomense, mas não quero ser o único. Tal como fico também feliz por todos os outros chocolateiros estrangeiros que estão em São Tomé e que decidiram investir no país.”
O que diferencia o “Cloçon Téla” dos outros chocolates que já estão no mercado? Edner disse que, as duas marcas com selo nacional mais conhecidas do mercado envolvem-se desde a produção agrícola até a transformação. “É um circuito fechado. E é aí que nos diferenciamos. A nossa intenção é aproveitar a matéria-prima, o produto dos nossos agricultores, é complementar a cadeia de valor.”
O chocolate Cloçon Téla vai estar oficialmente disponível no mercado nacional a partir de Setembro deste ano. O empreendedor pretende introduzir produtos de alta qualidade e com identidade própria.
“Conquistar o nosso mercado nacional, pelo menos nesse setor de chocolate depende de turismo também, dos turistas com poder de compra. O chocolate artesanal tem um preço superior a produção industrial.”