Dário Pequeno Paraíso (30 anos), filho de são-tomenses residentes em Portugal, é um fotógrafo e videografo freelancer. Em 2014 chegou, pela primeira vez, a São Tomé e Príncipe decidido a conhecer as suas origens, traços e motivações existenciais, dando os primeiros passos nas áreas criativas.
Totalmente autodidacta, começou a usar a fotografia como interlocutor das diferenças sociais, económicas e culturais que vai descobrindo e conhecendo. Deste modo, entre pequenas intervenções fotográficas e colaborações na área, Dário Pequeno Paraíso procura revelar pelo seu olhar a simplicidade do quotidiano urbano e rural, os movimentos e as energias do que o rodeia.
Conforme podemos constatar nos seus trabalhos cinematográficos como na curta-metragem “Mina Kiá” (2017), cuja direção de fotografia ficou a seu cargo. Tal como no documentário “Omali Vida Nón”, que realizou em 2019. Recentemente foi destacado na CNN pela sua parceria no projeto “Os Ilhéus a salvar as Abelhas para um futuro sustentável”.
Dário Pequeno Paraíso vê a arte como uma simples e complexa maneira de comunicar. “O mais bonito dos processos fruto da intelectualidade humana. É um impulso elétrico. Para mim é uma forma de expressão. Uma maneira de ser.”
O fotógrafo costuma dizer que foi a fotografia que o descobriu. Apesar de ter estudado Administração Pública no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, optou por enveredar pelo mundo da fotografia e do audiovisual.
“Penso que tudo surgiu num pensamento e desejo de querer falar um pouco mais do que me rodeava: as pessoas, os seus hábitos, as suas diferenças, as suas lutas. A fotografia fez-me o convite para fazer essa ponte.”

Unsa Kaxi de Dário Pequeno Paraíso
Recentemente, expôs no Cais do Gás, em Lisboa. Unsa Kaxi foi o nome da exposição, que significa “sempre por casa” em linguié, crioulo da Região Autónoma do Príncipe.
“Este título é uma ode ao sentimento da arte de bem receber e ser bem-recebido (tipicamente santomense também). Ao longo de 6 anos a fotografar, apercebi-me que a maneira como consigo entrar na vida das pessoas passa muito pela abertura que elas têm perante mim. De me deixar entrar nas suas convivências, dia-a-dia, etc. A minha arte traduz a entrada e a simplicidade de me “sentar” na mesa das suas vidas e ver a realidade das suas vidas.” O seu trabalho demonstra que gosta de explorar sobretudo “pessoas”. O artista confessa que tem “um grande fascínio de todas igualdades em tantas diferenças. As pessoas.”
“Os fotógrafos de redes sociais acabam por ficar presos ao reflexo superficial de obter likes”

Dário e as Redes Sociais
Atualmente, há quem não consiga viver sem partilhar a sua vida ou o seu trabalho nas redes sociais. Contudo, na era em que a fotografia está presente em todo o lado e em que todos são “fotógrafos”, nomeadamente nas redes sociais, Dário Pequeno Paraíso considera o desafio do fotógrafo dos nossos dias está na mensagem por trás das fotografias.
“É verdade que existem muitos “fotógrafos”, mas penso que são poucos o que fazem carreira a “full-time” físico e mental desta função. Sou muito apagado de redes sociais pois não quero desgastar a importância das histórias e pessoas que fotografo.”
Nesse sentido, o artista defende que pela sua enorme importância as fotografias profissionais merecem outro palco. “Um sítio de destaque que, por vezes, merece outra seriedade e estrutura. Os fotógrafos de redes sociais acabam por ficar presos ao reflexo superficial de obter likes e logo de início o seu objeto e objetivo de estudo encontra-se deturpado. Fotografar pelos likes e pelo número de seguidores? Vicia a retórica! Desvirtua a missão. Desencaminha a verdade.”
Todavia, o artista frisa que os fotógrafos que trabalham em prole das redes sociais não são menos fotógrafos do que ele. “Apenas temos públicos diferentes e mensagem bem distintas. Aceito sim mas não alinho” – conclui Dário Pequeno Paraíso.