Entrevistas

Um novo olhar sobre o paradigma energético em São Tomé e Príncipe

Luisélio Pinto

O STP Digital este à conversa com mais um orador do TEDxSãoTomé 2018. Luisélio Salvaterra Pinto nasceu em São Tomé em 31 de Maio 1976 e vive entre Portugal, Angola e o país que o viu nascer.

É um empreendedor e consultor apaixonado pelas novas tecnologias e formado em Engenharia elétrica com pós graduação em Gestão e Energias Renováveis.

Dedicou os últimos 10 anos, a prestar assistência estratégica para investidores angolanos e sãotomenses em vários domínios do setor industrial, mas com foco no novo paradigma energético, investimento em infraestruturas e tecnologias de informação.

Luisélio é também co-fundador de duas start-ups: KRYPTON, para encontrar soluções no domínio energético e ambiental e a HITEC que também procura trazer o conhecimento tecnológico para as ilhas. Confira a nossa conversa com o engenheiro visionário.

STP Digital – Considera inevitável que São Tomé e Príncipe aposte em energias renováveis?

Luisélio Salvaterra Pinto –  Não sei se é inevitável. Tenho para mim que pode ser sensato pensarmos a fundo sobre o tema da sustentabilidade energética no nosso país.

Em particular, à luz do modelo de desenvolvimento que o país pretenda seguir. Em todo o caso, a questão pode estar também em saber se as opções assumidas como resposta ao problema energético que temos, tira ou não partido do driver cada vez atual das energias limpas. Temos algum recurso endógeno – pelo menos é o que dizem alguns estudos já feitos a esse respeito.

Todos ouvimos e sentimos o efeito da “onda” global de promoção e discussão destas temáticas. Parece haver um consenso global na necessidade de agir com assertividade sobre esta matéria. E exemplos são cada vez mais frequentes de países que adotaram medidas concretas tendentes ao gradual desinvestimento nos combustíveis fósseis como fonte de matéria prima para produção de energia.

Se por um lado temos as questões de mercado (competitividade tecnológica, preços, modelos de organização, etc.) das renováveis, por outro, estão as premissas do ambiente e a sua proteção. É uma questão multi-dimensional, e por isso, o cardápio de análise é imenso. Eu apoio as renováveis. Que tecnologias? Que modelos de financiamento e exploração? Que regulação? Existe uma estratégia? São questões que devem ser adequadamente vistas de modo a sustentar uma aposta forte, bem sucedida e que perdure no futuro.

Penso que seria interessante ter uma reflexão nacional e descomprometida sobre estas questões.

STP Digital – Como poderia o país preparar-se para entrar nesta era?

Luisélio Salvaterra Pinto – Se chegássemos/chegarmos a esta conclusão (depois duma aturada e aberta discussão), penso que o primeiro passo passaria por elaborar um documento de visão que apontasse as motivações, fundamentos e as grandes questões dessa aposta.

Como diz um amigo meu, se continuarmos a testar projetos do tipo pequenos ilhéus desgarrados duma logica mais abrangente (da big picture), por muito interessante e bem-sucedido que possam ser, pode não ser o suficiente para deixar impacto e gerar a mudança que se pretenda levar a cabo. Não acha? Penso que aposta na aquisição de melhor conhecimento critico por partes dos atores relevantes do sector é sempre uma aposta interessante. Conquanto essa mesma capacidade de analise não fique circunscrita aos pareceres e notas técnicas que raramente são trazidas à lupa da discussão publica.

 STP Digital – Pela sua experiência, como se soluciona o “problema”denominado EMAE (Empresa de Água e Electricidade)?

Luisélio Salvaterra Pinto –   Esta é uma pergunta típica de 1 bilião de  dobras (risos). Mas é a EMAE de per si um problema? Ou será que o que me pergunta não é mais: que solução para o problema da EMAE? Em qualquer dos casos, primeiro, teríamos de concordar que há um problema com a EMAE ou na EMAE. E a seguir descrevê-lo para

podermos discutir. Não lhe parece?

Eu posso dar-lhe nota da minha perceção sobre o sistema como um

todo. Tenho interesse em olhar para este assunto. Mas mais do que elencar as questões que presumo serem aquelas que nos tocam a todos no dia a dia: cortes frequentes, do acesso ainda não massificado, da qualidade do fornecimento, da sustentabilidade operacional e financeira da empresa, etc. -, tenho maior interesse em questionar sobre o modelo funcional e organizacional do sistema energético nacional. Tem interesse pensarmos num novo paradigma? Um paradigma que proporcionasse a separação das atividades nucleares do sistema em entidades distintas e autónomas? Que promovesse e potenciasse a livre concorrência? Priorizar a expansão da rede ou melhorar a produção? E os custos? As tarifas?

Julgo que está em curso um programa de assistência técnica do Banco Mundial no setor e nesse sentido, penso que este debate deverá acontecer.

 STP Digital –  Como é o São Tomé e Príncipe dos seus sonhos?

Luisélio Salvaterra Pinto –  É um São Tomé e Príncipe dinâmico, empreendedor e assertivo naquilo que quer ser. Solidário com os seus e atencioso e acolhedor com os visitantes; atento aos seus filhos em situação mais vulnerável, mas também onde se dançe e cante a cultura das tradições e sobretudo a cultura da amizade e do convívio que aproxima as pessoas… Onde se celebre mais a troca de ideias e diversidade de pensamentos sobre os caminhos do futuro.

 STP Digital – Este ano será orador no TEDxSãoTomé. Que ideia irá apresentar?

Luisélio Salvaterra Pinto –  Penso que tenha sido excesso de generosidade da organização do TEDxSaoTomé, pois não considero que tenha alguma ideia inovadora digna desse nome. Irei atrever-me a falar da relação tecnologia e a organização do estado (como prestador de serviços à comunidade).

STP Digital –  Se pudesse ter um super poder qual seria? Porquê?

Luisélio Salvaterra Pinto – É mesmo uma pergunta à sério? É difícil. Por alguma razão, há vários super heróis de banda desenhada. Cada um com a sua missão e propósito – está aí outro tema sobre o qual tenho questões. Em todo o caso, penso que apostaria no poder de aproximar as pessoas. Pois a partir daí, abre-se sempre um infindável mundo de possibilidades resultado das interações naturais entre as pessoas.

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