Aproxima-se mais um período eleitoral. Os são-tomenses irão uma vez mais às urnas votar nas eleições legislativas, autárquicas e regional. A maior parte dos eleitores ainda não sabe realmente o poder que tem em mãos. Não sabe que ao votar está a decidir o seu futuro, que está a influenciar a vida das gerações vindouras. O acto de votar não tem apenas efeitos imediatos. Tem também efeitos a longo prazo. Votar é a possibilidade de se ter progresso ou atraso, vitória ou derrota, alegria ou tristeza, saúde ou doença, paz ou guerra, luz ou escuridão, educação ou ignorância, enfim, é algo tão poderoso que pode levar ao sucesso ou a ruína.
As eleições são fulcrais para qualquer Estado de Direito Democrático. Para além de representar um acto de cidadania, possibilitam a escolha de representantes e governantes, que fazem e executam leis que interferem directamente com as nossas vidas. Escolher um péssimo governante pode representar um retrocesso para um país e causar danos irreparáveis na qualidade de vida.
Assim sendo, os eleitores precisam de ser mais exigentes com os políticos e lutar mais pelos seus direitos. Trocar o voto por umas cervejas, por alguns sacos de cimento, por um televisor, por algumas tábuas, por algumas chapas de zinco, por uma máquina de costura, por cinquenta mil Dobras, ou outro valor qualquer, é vender e condenar o próprio futuro. Muitos ficam ansiosos pela campanha para receber o “banho” ou a famosa “boca de urna”, mas não sabem ou não pensam nas consequências.
Para começar é necessário desmistificar a ideia de que todos os políticos são iguais. Existem políticos corruptos e incompetentes, que só estão na política para fazer valer os seus próprios interesses e encontrar atalhos para aumentar o seu património pessoal. Porém também existem políticos dedicados, que procuram fazer um bom trabalho no cargo que exercem. Pessoas que zelam pelo bem comum e que sabem que são eleitos para servir o povo e não serem servidos pelo povo. Mas o grande problema é como identificar um bom político.
Para votar conscientemente é preciso ser um cidadão atento sempre e não apenas nos períodos eleitorais. O cidadão tem o direito de cobrar os seus direitos. E aqui permitam-me que recorra intencionalmente a esse pleonasmo.
Normalmente, nas campanhas eleitorais assiste-se ao típico discurso de promessas e à tempos de antena que ao invés de transmitirem aos eleitores os motivos pelos quais se deve votar no candidato ou partido (x), mostram as razões pelas quais não se deve votar no candidato ou partido adversário. Basicamente atiram areia aos olhos dos eleitores com manobras de distracção, muitas vezes insultando o adversário. E porque não, após 38 anos de independência, os cidadãos são-tomenses exigirem que os políticos comecem a jogar limpo? Que conquistem os votos pelos seus projectos, por civilizados debates de ideias entre candidatos, pela demonstração de que já fizeram algo bom para o país?
Que tal políticos que se preocupem menos com os carros topo de gama com que circulam durante o seu mandato? Que tal políticos que não fiquem tão sedentos de poder a ponto de fazerem tudo para fazer cair um governo e impedir que este cumpra o seu mandato? Que tal políticos que acima de tudo pensem no bem de todos e ajam em conformidade, e mesmo, que se sintam escorraçados, insultados e humilhados, façam a passagem de pasta e compareçam nas sessões plenárias? Que tal sessões plenárias em que se debatam soluções para os problemas do país e não troca de insultos entre deputados? Que tal começarem a fazer política e deixarem-se de politiquices? O poder é-lhes concedido pelos eleitores. Eles estão ao serviço dos eleitores e não o contrário! São eles que são renumerados e usufruem de regalias. Logo, o povo tem sim o direito e o dever de exigir que eles façam bem o próprio trabalho, que tenham acima de tudo amor à camisola (independentemente da filiação partidária, crença religiosa, orientação sexual, etc.)!
Por isso mesmo o voto deve ser consciente. É preciso entender os projectos e ideias do candidato em que se pretende votar. Para tal é necessário que se faça algumas perguntas chaves tais como: “Será que há recursos disponíveis para que ele execute o projecto pretendido, caso chegue ao poder? Nos mandatos anteriores ele cumpriu o que prometeu? O partido político a que o candidato pertence merece o voto?”
Para se exercer a cidadania não é preciso estar afecto a um partido político. Os apartidários têm exactamente os mesmos direitos. Votar conscientemente é um processo e não uma decisão que se faça com “ti, ti, ti, come fuba muito doce”. Trocar o voto por bens materiais ofertados durante as campanhas eleitorais não resolve os problemas individuais e muito menos os colectivos. O uso consciente do voto para a escolha do dirigente certo poderá contribuir para a mudança de condição da vida colectiva. O voto, numa democracia, é uma conquista do povo e deve ser usado com responsabilidade.