A 19 de outubro assinala-se o Dia Internacional do Cancro da Mama. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), este é um dos tipos de cancro que mais mata em todo o mundo. O mês de outubro é marcado por tons de rosa em todo o mundo, simbolizando o movimento internacional de sensibilização para o cancro da mama, conhecido como Outubro Rosa. Este movimento visa não apenas aumentar a consciencialização sobre a importância da deteção precoce do cancro da mama, mas também destacar os desafios que os pacientes enfrentam na sua jornada contra esta doença devastadora.
Há anos que me debato com a redação deste artigo. Escrever sobre o cancro da mama é uma tarefa que me toca profundamente. Não apenas por ser uma sobrevivente dessa doença, mas também porque sei que cada palavra que coloco no papel carrega consigo a responsabilidade de partilhar uma experiência que é dolorosa.
Em primeiro lugar, o cancro de mama é uma doença que afeta não apenas o corpo, mas também a mente e a alma. Ainda me é muito penoso recordar os momentos de medo, incerteza e dor que vivenciei durante o meu próprio diagnóstico e tratamento. Relembrar esses momentos é emocionalmente desafiador, e muitas vezes é acompanhado por uma sensação de vulnerabilidade.
Além disso, escrever sobre o cancro de mama é difícil porque sei que minha experiência não é única. Cada pessoa que enfrenta a doença tem a sua própria jornada, as suas próprias lutas e triunfos.
Aos 31 anos de idade, a minha vida deu uma volta inesperada quando recebi o diagnóstico de cancro da mama direita. O cancro, uma doença que não faz distinção de idade, género ou nacionalidade, forçou-me a confrontar uma realidade assustadora. Mas, em vez de ceder ao medo, optei por enfrentar a doença de cabeça erguida, ou pelo menos, foi o que sempre deixei que os outros vissem.
O cancro da mama afeta a vida como um todo. Para mim, os impactos foram profundos. Tinha acabado a rodagem do meu primeiro filme. Estava feliz. Sentia que as coisas estavam finalmente a fazer sentido. Mas tive de colocar a minha vida em pausa, deixar o meu trabalho, família e amigos, e o meu lar em São Tomé e Príncipe para procurar tratamento em Portugal.
A falta de recursos e infraestruturas adequadas no nosso país, forçou-me a fazer uma escolha angustiante, que no fundo não é bem uma escolha, certo? Ficar em STP e morrer ou sair do país e ter uma oportunidade de sobreviver? Infelizmente, não temos acesso a tratamentos como quimioterapia, radioterapia, hormonoterapia, nem temos especialistas de Oncologia.
Prevenção e Autoexame
A prevenção desempenha um papel fundamental na luta contra o cancro da mama. O Outubro Rosa é um movimento que, além de sensibilizar para a importância da deteção precoce, também destaca a necessidade de melhorar o acesso a tratamentos e cuidados de qualidade para todos os pacientes. A minha história é um exemplo vívido das desigualdades na saúde enfrentadas por muitos pacientes em todo o mundo.
Felizmente, a minha história teve um final feliz. Após passar por quimioterapia, cirurgias, radioterapia e fisioterapia, estou aqui para contar a história. Aproveito a minha voz para clamar por melhores condições de saúde em São Tomé e Príncipe. Apesar dos desafios, escrever sobre o cancro de mama também é uma experiência catártica e essencial para mim. Desde que Deus me concedeu uma segunda oportunidade, que primo por viver a vida, e julgo que é tenho a obrigação de partilhar a minha experiência.
O Outubro Rosa não é apenas um mês de sensibilização, mas também um lembrete de que a luta contra o cancro da mama é uma jornada que exige solidariedade, acesso igualitário a tratamentos e apoio emocional para os pacientes.
Embora a prevenção completa do cancro da mama não seja sempre possível, há passos importantes que todas as mulheres podem tomar para reduzir o risco e detectar a doença precocemente. A conscientização é essencial quando se trata de prevenir o cancro da mama. Isso significa estar informada sobre os fatores de risco, os sintomas e as opções de rastreio disponíveis. As mulheres devem estar cientes de que a idade, histórico familiar, genética e estilo de vida desempenham um papel na suscetibilidade ao cancro da mama.
O autoexame das mamas é uma ferramenta simples e eficaz na prevenção do cancro da mama. As mulheres podem realizar o autoexame regularmente para detetar quaisquer alterações nas suas mamas. Isso inclui procurar caroços, inchaços, mudanças na textura ou no tamanho das mamas, bem como qualquer secreção anormal do mamilo. Caso encontre alguma alteração, é importante procurar um médico imediatamente.
Além do autoexame, o rastreio mamográfico é uma parte crucial da prevenção. Adotar um estilo de vida saudável também desempenha um papel na prevenção do cancro da mama. Isso inclui manter um peso saudável, praticar exercícios regularmente, limitar o consumo de álcool e evitar o tabagismo.
Neste Outubro Rosa, vamos lembrar não apenas da importância da deteção precoce, mas também dos obstáculos que muitos pacientes enfrentam na sua jornada contra o cancro da mama. Juntos, podemos trabalhar para garantir que nenhum paciente seja forçado a deixar a sua casa em busca de tratamento, e que todos tenham acesso à melhor qualidade de cuidados de saúde possível, onde quer que estejam.
Como? Basta que cada um de nós enquanto cidadão de São Tomé e Príncipe faça a sua parte. Passo a passo haveremos de lá chegar.