A agência de viagens e turismo emprega diretamente 3 pessoas, gera também trabalho indireto para os guias de turismo, motoristas, auxiliares de limpeza e guardas. Nesta entrevista o jovem empreendedor fala, como sempre, sem papas na língua, sobre o cenário atual do turismo em São Tomé e Príncipe.
STP Digital – Quando e como surgiu a SÃOFÉRIAS?
Vladimyr Vera Cruz: SÃOFÉRIAS – Viagens e Turismo, surgiu com a evolução de um projeto que pretendia promover eventos e espaços turísticos em São Tomé e Príncipe, o “NOITESANTOLA”. Contudo, notamos que existiam algumas imperfeições neste projeto e como forma de evoluir mudamos o nome e alteramos a dinâmica do projeto. Assim surgiu a SÃOFÉRIAS.
STP Digital – Qual é exatamente o core da empresa?
Vladimyr Vera Cruz – O objetivo principal da SÃOFÉRIAS é trazer ao primeiro plano opções de alojamentos e atividades turísticas desde pequenas iniciativas até às grandes, dado que notamos que havia uma certa dificuldade na visibilidade e difusão dos mesmos.
STP Digital – Em relação a mercados estrangeiros, quais são os que mais vos procuram?
Vladimyr Vera Cruz – Desde a abertura do voo TAP com escala em Gana, existe uma grande afluência do mercado ganês (naturais, expatriados e residentes), no entanto, recebemos igualmente clientes franceses, italianos, holandeses, alemães, portugueses, tecnicamente temos recebido clientes de quase todos os países europeus e dos Estados Unidos.
STP Digital – E o turismo interno?
Vladimyr Vera Cruz – Tem estado a crescer, embora ainda persista a tendência do contacto direto com os alojamentos por acreditarem conseguir melhores preços. Razão que nos tem levado a esclarecer o público nacional através de campanhas, demostrando assim que além de podermos vender mais barato, poupamos tempo aos nossos clientes.
STP Digital – Qual é o destino mais procurado de São Tomé e Príncipe?
Vladimyr Vera Cruz – Na nossa perspetiva, os turistas procuram o rústico, o simples, o limpo, o típico e exótico. No fundo, tudo o que permita um contacto direto com a natureza mas num ambiente acolhedor e que ofereça os atrativos típicos do nosso país. Nessa esteira, os nossos turistas têm como preferência locais fora do centro da cidade, recaindo as escolhas no Mucumbli Eco Resort, Casa Ondas Divinas, Praia Inhame Ecolodge e Roça São João. Já na cidade de São Tomé o espaço mais procurado tem sido a Sweet Guest House.
STP Digital – Qual tem sido o principal enfoque da vossa estratégia de promoção?
Vladimyr Vera Cruz – Temos usado quase por exclusivo as redes socias (Facebook, Instagram, Tweeter, Google+, etc., os motores de busca como a GOOGLE, YAHOO e com a boa prestação de serviços (o feedback dos nossos clientes também é uma forma de promoção).
STP Digital – E já começaram a colher frutos?
Vladimyr Vera Cruz – SIM, sim, sim, temos estado a triplicar o número de reservas anualmente. Acredito que seja um indicativo bastante positivo de que o projeto tem estado a resultar.
STP Digital – Sendo o Turismo um setor estratégico dentro da economia nacional, considera que esta é uma área que está a ser tratada devidamente pelos diversos governos ou defende que está a ser colocada um pouco à margem?
Vladimyr Vera Cruz – Tenho impressão que os sucessivos governos têm remado na direção errada, embora já tenha havido um reconhecimento público da importância do turismo como um sector capaz de alavancar a economia nacional. Contudo, a estratégia adotada tem colocado de lado os verdadeiros promotores do turismo em São Tomé e Príncipe.
Isto porque tem se focado muito em vender o destino apenas nas feiras, mas localmente, não temos visto nenhuma medida ou iniciativa com objetivo de criar verdadeiras condições aos nossos turistas. Sendo uma aposta do governo é crucial conceber infraestruturas direcionadas à promoção da nossa cultura, da nossa história e do nosso lazer, criando assim verdadeiros atrativos aos que nos visitam e tornando as suas estadias enriquecidas com tudo que reflita a nossa identidade.
Ruas esburacadas e sujas, falta de sinalizações, as praias sujas, falta de patrulhamento nas praias e pontos de interesse, são aspetos a serem melhorados se se pretende uma aposta eficaz no turismo. Um exemplo é termos o maior ponto de interesse turístico em completo estado de abandono (ANAMBÓ).
STP Digital – O que acha da nova taxa de turismo que foi recentemente implementada?
Vladimyr Vera Cruz – É uma boa iniciativa, embora considere cara. Mas é preciso começar a ver resultados claros desta iniciativa.
STP Digital – Como avalia o desempenho da Direção de Turismo desde que entrou no ramo?
Vladimyr Vera Cruz – Penso que a Direção de Turismo deve aproximar-se mais das empresas neste ramo, dado que o objetivo comum é oferecer o melhor destino aos nossos visitantes. Reconhecemos um esforço constante em promover o destino, mas essa promoção deve passar necessariamente por conhecer a fundo os nacionais que operam nessa área, unificar a “classe” e não cingir-se tão somente a um papel fiscalizador.
STP Digital – Que tipo de medidas acha que deveriam ser tomadas para melhorar o setor do turismo?
Vladimyr Vera Cruz – Aposta séria do Governo no ensino de línguas desde as escolas primárias, aposta na arte e cultura, criação de áreas pedestres de cultura no centro da cidade, onde o turista possa sentir São Tomé e Príncipe e andar em segurança. Abertura de linhas de créditos para empreendedores nacionais e criação de mais opções de pagamento (ex: cartões visa).
STP Digital – É visível o crescimento do turismo no nosso país. Considera que as nossas cidades estão preparadas para este crescimento?
Vladimyr Vera Cruz – Não, não estamos preparados. Há um número crescente de pedintes, doentes mentais, cães vadios, sem falar na habitual sujidade das ruas, passeios esburacados, ausência de espaços verdes e parques. Acredito que no passado, já estivemos mais preparados para receber os turistas, hoje urge começarmos a trabalhar arduamente nestes pontos.
Outro ponto, é que nas cidades, nas praias, nas roças (que estão degradadas), não se encontra grandes demostrações culturais, ou zonas específicas destinadas ao lazer diurno e noturno. Motivo pelo qual se encontra poucos turistas nas artérias da cidade capital. Eles reclamam a falta de entretenimento. Não há nada para fazer.
STP Digital – Que futuro prevê para o cenário turístico são-tomense?
Vladimyr Vera Cruz – Ainda estamos a tempo de ter um turismo de qualidade em São Tomé e Príncipe e que seja benéfico para o pais e a sua gente. É importante que o nosso governo entenda que podemos ter um crescimento exponencial no turismo, mas esse crescimento pode não ser benéfico para os são-tomenses.
A título de exemplo, empresas como a minha que funcionam como mediadores, estão no mercado competindo com gigantes como o BOOKING.COM e outros. Imagine que se venda 2 milhões de euros brutos em reservas: as empresas de reservas ganham 15% – 20% desse valor. Se esta venda for feita por empresas nacionais significa mais dinheiro entrando no território nacional e que servirá para pagar salários, empregar mais gente e criar mais riqueza interna. Mas se for feita por empresas estrangeiras, nem com impostos o Estado conseguirá recuperar parte deste dinheiro.
Repito: É importante que no ramo turístico em São Tomé e Principe, no mínimo 80% dos empreendimentos sejam nacionais para que o dinheiro fique no país. Doutra forma, São Tomé e Príncipe será igual aos países do Caribe, onde há um turismo de massas de qualidade elevada, porém uma má qualidade de vida para os seus nacionais, pois o dinheiro desse turismo dorme nos bancos europeus.
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