Quem é Abel?
Abel Bom Jesus nascido em Ôbô Longo na freguesia da Trindade, quinto filho da família Silva Bom Jesus é um empresário promissor da área da produção agrícola que decidiu abandonar os prazeres da vida ainda muito jovem para realizar um sonho na busca de um sentido mais profundo para sua vida. Em sua viagem descobriu um intenso desejo em colaborar com a sociedade com os conhecimentos que adquiriu com a sua avó.
“O avô da minha avó era o senhor das roças em São Tomé. Sr. Januário José da Silva era um português que tinha muitas roças. E a minha avó por sua vez engajou-se muito do mundo da agricultura e quando nós éramos pequenos costumávamos ir com ela para os campos trabalhar. Portanto, é daí que vem as minhas costelas na agricultura. Quando eu tinha entre os 14 a 15 anos ela teve que ir a Portugal por motivos de doença e deixou-me como um dos responsáveis pela roça. Foi aí que tudo começou, levando os colegas para mato de jaca e dar uma mão e ouvindo conselhos daqui e dali…fui aprendendo errando ao longo desses anos e comecei a ganhar o título do jovem trabalhador”.
Humilde, porém arrojado, Abel é do tipo destemido, não tem medo de apostar naquilo que acredita “sou extremamente firme nas minhas decisões. Não tenho medo de arriscar. As vezes é normal sentir um frio na barriga, mas isso é de menos quando temos força de vontade e estamos focados. Temos que acreditar e seguir em frente. Para chegar onde cheguei, tive que fazer sacrifícios. Tudo de valor ou de grande importância que tivermos na nossa vida só será conquistada depois de muito sofrimento, de muita penitência e de muita dificuldade.”
O Abel, desde pequeno sempre gostou da motivação de empreender. Com pouca idade já apresentava vestígios de empresário. “Na minha adolescência, comecei a plantar pequenos produtos e as vezes oferecia ou vendia. Pouco a pouco fui fazendo a minha pequena horta e pouco tempo depois, apercebi-me do meu talento e graças a Deus tive o apoio de pessoas que me são extremamente queridas e uma delas é o meu tio. Que nunca me abandonou e sempre acreditou em mim” relatou.
Trajectórias e família
Mas nem sempre foi assim. Na sua trajectória já passou de tudo e conheceu pessoas de todo o tipo.
“Quando comecei a minha horta disseram que eu estava a dar cabo da minha vida e sobretudo eu estava a cavar um buraco onde eu acabaria sendo enterrado. Porque a agricultura não dá e muitos que já fizeram não deram em nada. Já tentaram me derrubar inúmeras vezes, mas eu sou um homem de Deus e não devo nada a ninguém. Cumpro com a minha palavra e tento sempre seguir o caminho da luz. Sem Deus não somos nada. Tens que ser perseverante e saber quem és, senão nada feito”.
Apesar das tentativas frustradas o empreendedor não via como empecilhos para dar novos voos, pois em suas mãos, o empreendedorismo no agro negócio apresentou sinais de abundância e crescimento. E foi nesta viagem que Abel Bom Jesus conheceu ainda mais a área e necessidades que comportava, quando conheceu um empresário estrangeiro que ao conhecer o seu trabalho, apercebeu-se do talento que o mesmo possuía e postou em construir estufas. Foi a partir daí, que tudo realmente começou a ganhar forma, início da jornada de sucesso que ele começou a construir em sua carreira profissional.
“Um completo estranho, que nunca me tinha visto na vida, ouviu falar dos meus feitos, conheceu o meu campo dando quatro voltas apenas e simplesmente apostou construindo estufas e o resto veio com a bênção de Deus associado a muito trabalho e dedicação. E quando lhe perguntei porquê aqui ele respondeu que apesar de ter pouca coisa está limpo e bem organizado. O que mais posso dizer? A vida nos surpreende todos os dias” sorriu.
Pode parecer exagero, mas acredite que não, pois o jovem empresário de apenas 36 anos consegue enxergar oportunidades de negócio que ainda estão na fase de embrião, as que parecem ter grande potencial no mercado para transformar em grandes produções. E essa noção que “a agricultura não dá” que tanto ouviu na sua trajectória, Abel diz que isso deve ao facto que temos natureza que nos dá tudo. “Tu comes um fruto e atiras a semente para o chão e quando chove ela germina e passando uns anos tens uma planta ou árvore com frutos. Mas se vivêssemos num país com dificuldades extremas, desde a natureza até o homem, um conjunto de coisas que nos faz sentir essa verdadeira dificuldade, acredita que teríamos um outro tipo de pensamento. E como a natureza nos facilita nesse sentido as pessoas tornam-se preguiçosas.
“E não só, existe uma grande diferença entre plantar e cultivar. Podemos plantar hoje e não cuidar, mas quando cultivas é uma sequência que estas a dar, é o mesmo com os nossos filhos. Se gerarmos e não cuidarmos, certamente vai lhe faltar amor e outras coisas e então ele não terá nada para dar no futuro, percebe?” desabafou.
Abel que hoje é o maior produtor de ananás de São Tomé e Príncipe, completará 24 anos na no mundo da agricultura apesar de conhecer resultado do seu trabalho há cinco anos. Muitos lamentam pelo sucesso tardio, mas o produtor agrícola diz que isso representa muito para ele “só demonstra o quanto eu acreditei que pudesse ter futuro. Trabalho no meu campo de segunda à segunda. Porque nós aqui temos a mania de querer tudo hoje. Não? Se a criança nasce hoje não poderá andar no mesmo dia, porque é um processo. E tudo que acontece com facilidade também destrói com facilidade. É a minha história. Eu hoje tenho uma família, mulher e filhos, e sempre digo as minhas filhas mais velhas que eu não as quero ver como agricultoras mas que conheçam de onde vieram, porque se a vida correr mal elas já têm por onde recorrer. E quando vejo as pessoas dizerem que as crianças não devem trabalhar eu digo que não, as crianças devem conhecer sim de onde vem o pão, porque só assim elas saberão como valorizar. Devemos mostrar aos nossos filhos os campos dolentes da vida, não só a parte boa para eles pensarem que a vida é só feita de coisas boas”.
Futuro da agricultura
Abel por sua vez, preocupado com a agricultura nacional tem engajado em projectos que formulam políticas visando gerar empreendedorismo e inovação, num espaço que actualmente apresenta dificuldades de natureza variada para a fixação dos jovens, é premente, sendo indiscutível a necessidade de discriminar positivamente os Jovens no espaço rural.
“Ainda é preciso consciencializar que a agricultura tradicional e a pecuária, associadas ao consumo de produtos locais, têm muito a dizer na luta para melhorar a economia do país. E ausência de políticas públicas eficientes, faz a juventude do campo optar pela cidade. Não estou contra, porque vendo bem, centros urbanos ainda são atractivos para jovens que buscam alternativas económicas e educativas diferentes daquelas encontradas no meio rural. Mas é necessário não esquecer da agricultura, pois ela está na base da nossa economia”.
A agricultura é responsável pela produção de grande parte dos alimentos provenientes dos estabelecimentos agropecuárias do país, que contribui para o abastecimento do mercado interno. Nesta lógica, Abel acredita que esta prática também desenvolve um papel importante na geração de postos de trabalho no campo, o que contribui para a fixação do homem no meio rural. Para ele o bom cumprimento e o fortalecimento da agricultura depende da capacidade de articulação dos diversos actores sociais envolvidos e comprometidos com a agricultura. Apesar da existência de alguns factores que limitam as actividades da agricultura, como o caso da “falta de investimento”, esta ainda mantém uma de suas principais característica e importância em São Tomé e Príncipe, que é a de segurança alimentar.
Dada a importância do tema e à sua cada vez maior relevância, São Tomé e Príncipe assumido um particular destaque, devido a uma grande falta de interesse por parte dos jovens e com pouco investimento no que concerne a agricultura, o que é assustador, é imperativo sim, fazer-se alguma coisa, como acredita Abel.
“Com pouco ou muito, e com o conhecimento que tenho acredito que posso chegar lá. Sozinho, eu posso mas não chegarei assim tão longe se não tiver o apoio que preciso. Temos todos que dar as mãos, unir forças e ter um pensamento só. Por este motivo tenho estado a procurar pessoas e entidades competentes que possam dar esse apoio….” suspirou.
Empreendedorismo social, em busca de novos horizontes
Como empreendedor social Abel da Silva Bom Jesus diz que “tenho usado a minha influência para ir em busca de apoio para ajudar os outros jovens a nível do país. já participei em workshops por mundo fora onde fui adquirindo algum conhecimento tanto a nível da agricultura como do negócio. E como eu tenho estado a acompanhar o BAD como o parceiro de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe, e não só, a nível da África, tenho projectos que eu gostaria de ter encontros com o representante do BAD no país para mostrar aquilo que são as minhas ideias para a juventude, principalmente porque nós vemos aqui grupos de jovens que precisam ser organizados. Portanto, se nós criamos associações de jovens e dar formação por comunidades ou zonas, no futuro poderá ser possível construir pequenos ateliês na área de ferragem, ou até mesmo criar pequenas empresas para eles e congregando entre 10 ou 15 jovens onde eles possas produzir e ter rendimento. Desta forma, ter como o órgão fiscalizador alguém da parte do governo ou do BAD. Isso serviria de alavanca para as próprias comunidades, porque como sabem as pessoas estão a precisar de incentivos. Como jovem pude aperceber que entanto a juventude estiver ocupada, ela não terá tempo para pensar em coisas ruins” rematou Abel.
Ainda na casa dos 30 anos, Abel promete se embrenhar no mundo dos negócios em diversos segmentos como é o caso do turismo rural. Quer colocar o seu campo na rota to turismo de forma a poder ajudar a sua comunidade. Agora é esperar para ver, pois Abel ainda há-de nos surpreender.