Ambiente Entrevistas

Usam a floresta para sobreviver, mas acreditam que proteger é o melhor investimento

Motivados pela falta de outras oportunidades no mercado de trabalho, aliada à incidência da pobreza, uma grande parte da população santomense tem na madeira, que advém da floresta, e em outros recursos florestais as suas principais fontes de renda.

Anailson Aguiar, Esmael Pontes, e Wesllesley Neto trabalham como Estofadores no Bairro 3 Fevereiro. Foi neste ramo que encontraram uma oportunidade de trabalho e uma forma de sustentar as suas respetivas famílias.

“Nós precisamos de um ganha-pão”, afirma Esmael Pontes.

O fenómeno “ganha-pão” é uma constante em São Tomé e Príncipe. Para muitos, este termo significa “sobrevivência”, fazendo assim, com que não se importem com as consequências que as suas ações desencadeiam sobre o ambiente.

Atualmente, existe uma grande preocupação no país com as atividades desenvolvidas de forma marginal por pessoas que usam a madeira para obter rendimento. A forma indiscriminada da extração deste material, e a falta de conscientização na nossa sociedade é preocupante.

“Ele não planta. Êh cá côtá dê tám”, afirma Anailson Aguiar, ao relatar a prática de abate de árvores feita por um conhecido.

Os estofadores afirmam estar conscientes dos índices de desflorestação e desagregação dos recursos florestais em São Tomé e Príncipe, e por esta razão adquirem as madeiras no posto de venda com um fornecedor legal.

Além da produção de mobílias, existe também um forte aumento da utilização de madeiras no setor da construção civil. Por constituir uma fonte atrativa de negócios, várias pessoas, tanto individuais como coletivas, começam a enveredar pela área de extração e exploração da madeira.

Hipu Olinto é pai de quatro filhos. Trabalha como carpinteiro e marceneiro há mais de 20 anos. Assim como os estofadores, também ele depende da floresta para assegurar o sustento da sua família. Hipu Olinto conta-nos que não abre mão de uma “boa madeira” nas suas construções, como é o exemplo da cidrela, gôgô, acácia e da amoreira.

“Mas a amoreira quase que já não existe”, afirma o carpinteiro.

A amoreira é uma das espécies mais utilizadas na construção de casas e mobílias, por fornecer madeiras de alta qualidade. Porém, o abate ilegal, indiscriminado, e abusivo dessas espécies tem causado a sua escassez.  O dilema “sobreviver versus preservar” constitui um grande desafio para a sociedade santomense. Uma sociedade enraizada na floresta, que nela vive e dela extraí os principais meios de subsistência.

Apesar dos esforços da Direção das Florestas e Biodiversidade e algumas Organizações Não Governamentais para proteger e conservar a biodiversidade de São Tomé e Príncipe ainda há muito a ser feito para alterar o cenário atual.

É urgente assegurar que os recursos florestais sejam utilizados de forma sustentável para permitir o desenvolvimento económico e social do país.

Sobre o Autor

Akaisa Borges

Akaisa Borges, é uma jovem versátil de espirito aventureiro, licenciada em Gestão de Empresas pela University of International Business and Economics (UIBE), Beijing, China. Actualmente é assistente de comunicação de marketing na empresa Tela Digital Media Group, apaixonada por arte, cultura e marketing. Ela acredita na lei da atração e está em constante busca por novos desafios.

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