Aoaní nasceu e teve a sua infância em São Tomé e Príncipe; passou a sua adolescência em Portugal. Formou-se em jornalismo no Brasil e exerceu a sua profissão em Angola. Depois de algum tempo emigrou para os Estados Unidos, onde formou-se em teatro. O tempo que lá permaneceu, participou em vários trabalhos. De volta à Portugal, trabalhou como jornalista numa rádio, faz shows de stand-up comedy e agora vai estrear sua primeira peça teatral. No entanto, a sua paixão pelo palco começou desde quando ainda era criança.
“Quando era pequena participava de todas as peças da escola. TODAS! E também ainda criança, cheguei a criar um jornal, chamava-se “O Mágico” e foi criado em homenagem ao Luís de Matos – a quem fui entrevistar no Hotel Miramar…. No momento de escolher o caminho profissional, o jornalismo pareceu-me mais exequível na altura, porque o regresso para São Tomé e Príncipe sempre foi um dado adquirido e eu tinha a ideia de que ia muito mais facilmente conseguir viver dele do que da atuação”, disse Aoani Salvaterra.
DO JORNALISMO AO PALCO
Embora ainda trabalhe com a comunicação, Aoaní Salvaterra escolheu colocar o jornalismo em pausa, e se dedicar a arte da representação.
“Eu sempre quis ser as duas coisas. Depois dos 30 anos e de ter a minha filha, percebi que não ia haver um momento ideal para fazer o que queria, então resolvi arriscar. Hoje o jornalismo está em pausa porque para mim não é compatível, em termos éticos, exercer as duas profissões em simultâneo”, explicou.
Segundo a atriz o começo foi “desafiante”. Foi surgindo desafios que de alguma forma a impulsiona a superá-los. Por vezes a dúvida sobre seguir somente o caminho da arte da representação bate a porta.
“As dúvidas estão sempre a espreita e vêm principalmente das dificuldades. Sempre me senti muito segura no jornalismo por me ter graduado na área. E não ter este suporte académico [no teatro] também me dava muita insegurança, tenho conseguido superar com cursos e workshops. Essa profissão é linda, mas é difícil, e ainda muito precária para a maioria de nós. Queria que houvesse mais mecenas, e que a criatividade dos artistas não estivesse sempre nesta posição infeliz, de ter de escolher entre criar e comer”.
Por outro lado, a certeza e a confiança, vinham do “apoio incondicional” que recebia da sua mãe e irmãos. “O carinho e do incentivo que venho recebendo da família, amigos, colegas, vem principalmente de saber o quanto me sinto feliz quando trabalho como atriz”.
“LIMITES”, UM GRANDE COMEÇO
Apesar do longo percurso, Aoaní Salvaterra criou a sua própria peça teatral que vai ser estreado hoje dia 13.
[“Limites”] “nasceu da minha necessidade de espiar dores ligadas a estes confrontos diários na diáspora. Dores que eu carregava há anos e precisava trabalhar para não adoecer”.O nome surgiu durante o processo criativo da peça, onde a artista fez vários exercícios com o corpo, coreografias, isto é “ideia de como os corpos racializados são submetidos à múltiplos limites ao longo da sua vida na diáspora”.
“Entusiasmada, cansada, ansiosa e feliz. Tudo ao mesmo tempo. (gargalhadas) Tem sido uma jornada muito bonita para mim. Teatro é um trabalho comunitário, de apoio e ajuda mútua e este trabalho tem sido isso o tempo todo. Resumindo numa só palavra, sinto-me GRATA”.
Para os expectadores a atriz deseja que tirem o máximo do proveito possível. “Eu quero é conversar. Quero que quem assista se questione sobre várias situações que acontecem e que se calhar já são percebidas como normais”.
“A minha expectativa é ter casa cheia e conseguir levantar questões. O que os espectadores podem esperar é um trabalho feito com muito carinho e dedicação”.
Aoaní Salvaterra conta que o seu maior sonho enquanto atriz, é poder viver somente da arte da representação.
“Viver exclusivamente da minha arte. Não precisar daquilo que os americanos chamam de “survival job”, trabalho de sobrevivência, numa tradução a letra. Porque em termos criativos, é muito desgastante. as vezes a pessoa precisa de sobreviver ao trabalho de sobrevivência… é duro!”
A última vez que esteve em São Tomé e Príncipe a convite do Teatro Griot, em 2022, na Bienal de Arte e Cultura, na Cacau, Aoaní fez parte do elenco da peça “O Riso dos Necrófagos”. Para a atriz foi muito importante poder representar em casa. No entanto, “Limites” só poderá ser vista por enquanto, pelos santomenses em Lisboa, de 13 a 16 deste mês. Mas “há outras datas e convites, que hão de ser anunciados oportunamente”.