A cantora santomense, Anastácia Carvalho, lançou em janeiro do ano corrente o seu mais novo single “AYWANA”, uma música de encorajamento, que tem três palavras como fundamento: Afé/Fé, Kêlê/Acreditar, Kunfiá/Confiar.
“AYWANA” é o nome de uma “pessoa” que precisava ouvir umas palavras de encorajamento, então fui abençoada com essas palavras cantadas
Além de “AYWANA” que já tem sido bastante aclamado pelo público, o seu penúltimo single “SAUDADE” também foi um grande sucesso, pela sua representação cultural e referência à sua raiz Santomense.
Para Anastácia é importante cantar na língua de São Tomé e Príncipe, porque para além da ligação que sempre teve com a língua, é uma forma de dá-la a conhecer ao Mundo.
“Por todos os países/lugares por onde vou, eu falo de São Tomé e Príncipe às pessoas, falo de onde são as minhas origens. Então através da música também posso fazê-lo e quero continuar a compôr mais e mais canções na nossa língua, para deixar este registo cantado da mesma na minha voz. Faço a minha parte, porque ela existe e é bonita de se cantar” – Explica a cantora.
Natural de Angola e filha de pais santomenses, Anastácia vive em Portugal desde 1983. Porém, passou grande parte da sua infância entre Angola, São Tomé e Príncipe e Portugal.
A música sempre fez parte da sua vida: “em criança sempre escutava música em casa, na minha ou nas casas dos vizinhos, graças a Deus, nos 3 países onde passei a infância e adolescência a música sempre esteve presente no ar. Em São Tomé e Príncipe havia música nas rádios, no rio quando íamos lavar a roupa, e via também apresentações de grupos culturais, como bulawê, txiloli nas festas populares. Em Angola toda as influências musicais chegavam-me também através da rádio e TV” – diz a artista.
Anastácia começou a cantar na igreja, no grupo coral em 1998. A dada altura em 1999 foi convidada pelo maestro Carlos Ancã, para fazer parte de um grupo coral de música gospel, aí começou o percurso profissional.
“Sou uma mulher que foi abençoada por Deus e que tem estado em busca da melhor maneira o cumprimento do seu propósito.”
Mais adiante, Anastácia começou a acompanhar outros grupos musicais, em vários estilos, tendo a primeira banda sido uma banda de reggae “Mercado Negro” em 2005. Entretanto mais convites foram surgindo, e Anastácia começou a colaborar com bandas funk e grandes nomes da música africana como: Bonga, Tabanka Djaz, Karyna Gomes, Tonecas Prazeres, Filipe Santo entre outros. Colaborou também durante vários anos com Rui Veloso um grande artista português de Rock & Blues.
Em paralelo as diversas colaborações de estilos como Jazz, Música Pop, e Rock, Anastácia manteve sempre o gospel no seu percurso, e sempre acreditou que a base espiritual do gospel tinha que lá estar. No seu projeto musical a solo que teve início em 2013, Anastácia explorou então estes universos musicais e criou uma fusão de tudo o que absorveu ao longo dos anos.
A nível da criação musical, Anastácia se inspira das mais diversas formas: “a maior parte das vezes a inspiração surge naturalmente inspirado numa palavra, num ritmo, num sentimento ou pensamento. E, se a canção for para ficar, acaba por ficar, porque normalmente quando é para ficar, eu não me esqueço dela mesmo quando não a gravo, a melodia ou o ritmo volta a memória então pego nela e ela nasce. Entretanto também quando é necessário, sento para compor, acaba por funcionar das duas maneiras.” – afirma a cantora.
Além de cantora, Anastácia também é maestrina. Esse gosto pelo canto coral surgiu desde criança quando ouvia “cânticos em Angola”, quando escutava as vizinhas cantando, ou as sennhoras que lavavam roupa nos rios de São Tomé e Príncipe.
Começou como cantora no gospel, mas sempre teve curiosidade pelo geral a nível da sonoridade: “nos ensaios muitas vezes o maestro pedia-me para dar apoio aos outros naipes, eu cantava/canto no naipe das contraltos normalmente, mas também consigo estar no naipe das sopranos, então o meu apoio era no sentido de ensaiar as vozes dos naipes quando fosse necessário, e mesmo antes de ter sido oficialmente requisitada como maestrina, já dirigia quando o maestro (Guy Destino) por algum motivo não pudesse estar presente”- descreve a maestrina.
Em 2006, decidiu então fazer uma formação na área de Direção Coral, e no mesmo ano teve o privilégio de dirigir um grupo coral com mais de 50 vozes. Desde 2006 até então Anastácia dirige o grupo “Gospel Collective” e também dá aulas de canto.
“A música para mim é uma missão, a missão de me conectar as pessoas e das pessoas se conectarem umas às outras, direção coral também para mim é isso, ligação”.
O seu talento no mundo da música levou Anastácia a estar 9 meses a viajar com a cantora Madonna, entre várias cidades dos Estados Unidos, Portugal, Londres e França, ao convite do grande músico de Cabo Verde Dino D’ Santiago.
“ Foi um grande desafio e positivo, porque foram 4 meses de ensaios intensivos em Nova York em que eu queria absorver o máximo de ensinamento que pudesse daqueles profissionais com o quais estava a partilhar os dias, e depois porque era uma performance completa, cantávamos, dançávamos, representávamos, eram as mudanças de figurino para os vários momentos e tinha que estar tudo pronto no momento certo para voltarmos a entrar em cena, era tudo muito corrido nos bastidores, mas era tudo muito organizado!”- explica Anastácia.
A cantora tem como objetivo representar a sua cultura e continuar a cantar, levar esperança, fé e o amor de Deus para as pessoas que escutam as suas músicas. E deixa um incentivo também as nossas mulheres santomenses, para estarem presentes também no panorama musical de São Tomé e Príncipe.