O chão que aquece, não é mais do que um campo de batalha, no qual soldados munidos exclusivamente de esperança, aguardam a tão desejada morte.
Ao virar de cada página, sobrepõem-se palavras, ideias, desejos nunca manifestados, cuja natureza etérea alude à grandiosidade do coletivo que poderia um dia ter sido capaz de se formar. Enraizada nas pessoas, a crença torna o “hoje” suportável, sendo a incerteza do “amanhã” motivo de efémera felicidade. Jamais, poderia a vida ser observada sob mais pura e ambígua forma. É ela o “élan vital” de todo o bem observável por entre as fendas de uma existência afogada no seio da maldade.
Questiono-me então, sobre a real hipótese de algum dia surgir “um santomense”. Algo ou alguém que transcenda a gramaticalidade da palavra em si e, reflita a própria essência de ser.
Não procuro o Super-Homem de Nietzsche, mas o que imediatamente o antecede. A ponte entre presente e futuro, indistinta em ambos, cujo olhar perscrutante busca fazer da compreensão, a virtude que catapultará a sociedade santomense para um propósito. Propósito este, nunca final, mas que ao permitir-se sofrer constante mutação, assume a universalidade que falta ao “santomense”, seja o que for que esta palavra denomine.
Torna-se então necessário, não aceitar a redução de tudo quanto a história nos ensinou, a laivos de um passado mal contado, que por si mesmo não pressuponha o imbricamento contínuo das nossas existências, visando estabelecer uma ideia de coletividade inegável, inefável e sobretudo até então, inexistente. Apenas desta forma pode a liberdade apresentar-se como mais do que um ideal. Na realidade, o “ser livre”, remete-nos para uma ideia de referencialidade, pois tudo o que é “livre”, só o pode ser relativamente a algo. É desse confronto constante que o homem extrai a liberdade em si, como objeto de diferenciação. Ora, “ser livre”, significa neste contexto, exercer essa mesma condição sobre os outros, de forma a torná-los nos meios através dos quais a liberdade enquanto atributo físico vem ao mundo.
Constitui-se assim o primeiro problema inerente a toda e qualquer sociedade: O outro é o veículo através do qual a minha liberdade vem ao mundo. Apresenta-se então como imperativo, a aceitação, não só do direito, mas também do dever. Só nos podemos tornar realmente livres, ao atender às responsabilidades que tal condição comporta, independentemente da sua forma.
O marasmo intelectual característico da nossa classe dirigente, é na realidade o reflexo de um todo, que sem nunca o ter sido, se afirma enquanto tal.
Os esforços globais, devem por isso ser focados na educação e consciencialização das pessoas, de que cada um é uma peça fulcral no desenvolvimento da nossa pequena pérola, pois ao contrário do que os sicofantes contemporâneos afirmam, a solução individual passa pelo coletivo e não o contrário.
O caminho é só um, e assim como gregos e romanos, também o nosso Homem terá que se inventar. Também ele terá que trilhar o próprio caminho, independentemente dos percalços que possa encontrar. Também ele terá que se afirmar enquanto consciência presente, responsável pelas suas ações e, eventuais resultados que delas advenham. Em suma, terá que procurar no âmago do seu ser, as razões que justifiquem a existência da palavra “humanidade”.
A verdade é que São Tomé e Príncipe, é um país caracterizado pela “falta”. Não de recursos ou pessoas capacitadas para os aproveitar, não de infraestruturas, bens ou serviços, pois esses são apenas os sintomas que anseiam pelo diagnóstico da causa que lhes é comum.
Digo-vos solenemente meus caros, aquilo que verdadeiramente falta à República Quasi Democrática de São Tomé e Príncipe, são seres Humanos.
Autoria: Erwin Kizenga (pseudónimo)
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