Decorre até ao dia 10 de Setembro deste ano, a CONMÚSICAS – Bienal da Música Santomense. Uma iniciativa do CAMU Instituto, que pretende pretende promover o empoderamento e patrimonialização das expressões musicais das ilhas, o resgate e valorização da identidade musical crioula, a dinamização de uma indústria musical local e a modernização e internacionalização da música santomense.
O STP Digital esteve à conversa com o etnomusicólogo Carlos Almeida “CA’mucuço”, Diretor Geral da bienal.
Surgimento da ConMúsicaS
A primeira edição da ConMúsicaS aconteceu em 2008 com o patrocínio do Ministério da Educação e Cultura. Foi um evento musical temático, de âmbito nacional, com foco na competição musical.
“A música Santomense (e não música de São Tomé e Príncipe) – frisou Carlos Almeida – sofre de problemas estruturais crónicos. Isso vem de um passado em que ela esteve praticamente votada a um confinamento social e mercantil decorrente da conjugação de fatores como o isolamento geográfico e a insularidade das ilhas, a repressão cultural exercida pela metrópole colonial e a inexistência de práticas migratórias extramuros por parte dos nativos e que se agravaram com o fenómeno globalizador que nos entrou pela casa dentro, apanhando-nos completamente impreparados.” – concluiu.
Ainda segundo CA’mucuço esses constrangimentos trouxeram consequências nefastas que acabaram mesmo por atingir a própria identidade musical crioula, que constitui a marca distintiva da música santomense.
“Foi a percepção destes graves problemas que enfermam a música originária das ilhas que conduziu à ideia de criação do ConMúsicaS, um projeto capaz de ajudá-la a crescer e a libertar-se do colete de forças em que, infelizmente, ainda se encontra” – afirmou.
O ConMúsicaS quando lançado em 2008, baseava-se num e único evento, que era a competição musical, que focou a Rumba Santomense, e teve como vencedores os irmãos Calema.
Segundo CA’mucuço, a ConMúsicas’2008 seguramente contribuiu para que a dupla transitasse do amadorismo doméstico para a indústria transnacional; ou seja, serviu-lhes de trampolim para o novo desafio que viriam a abraçar mais tarde na Europa.
“Lembro-me de, na altura, o pai deles, feliz e entusiasmado pela conquista dos rapazes no ConMúsicas, ter desabafado comigo que de pronto iria levá-los para Lisboa para tentarem a sorte no mundo da música. E foi exatamente o que aconteceu, acho que graças à vitória retumbante que então obtiveram.”
Ca´mucuço tem um enorme orgulho por saber que a avaliação do júri à prestação da dupla de irmãos naquele concurso, baseada exclusivamente em critérios técnicos exigentes, não foi um mero exercício académico.
Resurgimento do ConMúsicaS 14 anos depois
Após a realização da primeira edição do projeto em 2008, seguiram-se algumas tentativas de manter o projeto vivo em 2010 e 2011, mas sem sucesso.
Em 2017, Ca’mucuço regressou a São Tomé com algumas iniciativas em carteira. O músico recomeçara então a procurar apoios para resgatar o ConMúsicaS. Dois anos depois, Carlos recebe um “incentivo de peso” do falecido Administrador Executivo do BISTP, Dialló Santos, que prometeu que não deixaria de subvencionar o projeto.
“Aproveitando a feliz coincidência da disponibilidade do BISTP em apoiar com o surgimento do PROCULTURA PALOP-TL, resolvi remodelar o ConMúsicaS transformando-o num projeto de grande dimensão e de perfil marcadamente estruturante para a música santomense, para realizar a cada dois anos. Ou seja, uma bienal dedicada exclusivamente à música” – contou Ca’mucuço.
A segunda edição do ConMúsicaS
Cada edição é dedicada a um género ou estilo musical. Em 2008 foi a “Rumba Santomense”, já a edição deste ano versa o “Samba-Socopé”.
Esta nova edição conta com várias eventos, tais como a Oficina Criativa, o Ateliê-Incubadora Musical, o Concerto de Gala e o Fórum Nacional de Reflexão, além do Concurso Nacional de Música Santomense e estéticas, dentro Samba-Socopé.
“No que toca à adesão e participação, tudo está dentro das expetativas iniciais. Nota de registo para o número apreciável de jovens (mais de uma dúzia) que decidiram participar no concurso, aventurando-se num mundo que lhes é quase completamente desconhecido, o do Samba-Socopé.” – disse o fundador do projeto.
O concurso tem como público-alvo os jovens compositores santomenses interessados em explorar musicalmente as línguas e o estilo Samba-Socopé e consta de três categorias de prémios: melhor composição melódica, melhor composição poética e melhor interpretação.
O Samba – Socopé é um estilo musical representativo da música santomense que teve seu apogeu nos finais dos anos 60 do século XX. O Conjunto Mindelo, Os Úntues, e Sangazuza foram os principais expoentes em palco desse estilo musical.
Com expetativas altas para esse concurso de música, Carlos Almeida espera que possa surgir “uma nova geração de atores musicais, mais bem nutrida dos valores e elementos distintivos da nossa crioulidade musical e, concomitantemente, mais bem identificada, tanto em termos afetivos como performativos, com este estilo musical especial que é o Samba-Socopé”.
Depois da 1ª Bienal da Música Santomense, o próximo passo será fornecer suporte aos novos empresários da música que sairão do Ateliê-Incubadora Musical e, começar a preparar a ConMúsicaS 2024.
A ConMúsicaS é um projeto do Camu Instituto, co-financiado pelo Diversidade, instrumento de financiamento para a diversidade cultural, cidadania e identidade, no âmbito do PROCULTURA – Ação financiada pela União Europeia, co-financiada e gerida pelo Camões I.P em parceria com a EUNIC-Rede de Institutos Culturais e Embaixadas da União Europeia.