De 26 de julho a 18 de agosto, São Tomé e Príncipe – será palco de um grande encontro nosso com as nossas origens e com o continente africano. Trata-se da N’GOLÁ – Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe que, na sua 8ª edição traz um festival de abertura, que reunirá artistas africanos do Togo, República Democrática do Congo, Uganda, Ruanda, Quénia, Costa de Marfim, África do Sul, Senegal, Camarões, Angola, Benim e Nigéria.
“Como continuar a sonhar com a velha ideia de mudar São Tomé e Príncipe? De transformar este antigo entreposto de escravos em um entreposto natural e cultural para um desenvolvimento sustentável?” – João Carlos Silva
É com esta reflexão que o diretor da Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe, João Carlos Silva, introduz o espírito da N’GOLÁ. A edição de 2019 transporta-nos a um regresso às origens, envolve o “Nacional, Global e Local”, leva-nos ao ponto onde tudo começou – Angolares (onde se realizou a primeira Bienal em 1995), e traz o continente africano para a ilha São Tomé.
Além de contar com a participação de 32 africanos, sendo que 18 deles estarão presentes, este ano o novo conceito da Bienal definido pela curadora, Renny Ramakers, tem intenção de ir além e ampliar as fronteiras das edições anteriores, ganhando um novo caráter multidisciplinar e multicultural. Assim sendo, para além faz artes visuais, esta 8ª edição conta também com moda, arquitetura, música, gastronomia, tecnologia, artesanato e natureza.
Com um programa rico que inclui workshops, conferências, excursões, performances, concertos e exposições, a N’GOLÁ pretende expandir a multiplicidade de percepções que rodeiam o continente africano. Ao mesmo tempo que se alimentam da inspiração da história e das questões globais, concentram-se na criação de narrativas futuras alternativas e positivas. A N’GOLÁ – Bienal de Arte e Cultura destacará o poder das artes e cultura africanas e a forma como os artistas e designers africanos contribuem para o futuro da sociedade. O evento apresentará uma geração autoconfiante de artistas africanos que estão agora a transformar de forma célere a sua cultura.
Na Casa das Artes Criação Ambiente Utopias (CACAU), estará patente ao público de 26 de julho a 18 de agosto, uma exposição que inclui trabalhos dos seguintes artistas: Sammy Baloji e Filip de Boeck, Christian Benimana (Mass Design Group), Tabi Bonney, Joana Choumali, Justin Dingwall, Omar Victor Diop, Samuel Fosso, Jan Hoek e Bobbin Case, Wanuri Kahiu, Lola Keyezua, Dirl Dumon, Osborne Macharia, Emo de Medeiros, Sethembile Msezane, Emeka Okereke, Yves Sambu, Mary Sibande, Pascale Marthine Tayou e Sarah Waiswa.
Celebrando o Poder e a Beleza da Arte e Cultura da África
Uma das performances a não perder é a “Enigma” – uma homenagem ao herói nacional do nosso país, Rei Amador. Este projeto de Yves Sambu pretende mostrar a cara atual do nosso planeta e a luta contra a opressão de diferentes maneiras, promovendo assim o desenvolvimento sustentável. Sambu criou um traje especial para o Rei Amador, feito de talões vegetais. Em conjunto com 10 Sauers do Congo, ele desfila uma roda especial até a estátua do Rei Amador, na Praça da Cultura, partindo da histórica Praça da Independência.
“Salooni” de Darlyne Komukama e Kampire Bahana é uma instalação pop-up com um salão de cabeleireiro, na qual os visitantes da Bienal poderão ter os seus cabelos trançados da maneira tradicional e em seguida poderão ser fotografados. O objetivo deste projeto é libertar-nos das noções negativas sobre os cabelos com textura afro.
Outra performance que promete maravilhar os sãotomenses é do estilista e diretor criativo, Sunny Dolat, realizará um desfile de moda com 54 estilistas de moda, sendo um de cada país do continente africano. 54 modelos começarão por desfilar ao amanhecer, partindo do Fortinho S. Jerónimo. Dolat deseja mostrar a diversidade e riqueza e a moda da África.
Água Grande, o nome do rio que atravessa a cidade de São Tomé foi escolhido para batizar o projeto da artista holandesa, Nikkie Wester. Com o objetivo de contribuir para a infraestrutura socioeconómica sustentável de São Tomé, Wester ensinou 25 mulheres e homens em 4 semanas a tecer e a tingir material têxtil. Na cidade de Neves, eles estão a produzir uma cortina de 90 metros para o interior da CACAU. Parte da cortina será exibida durante a Bienal na CACAU.
Exposição em À Baiá da Bô
Com a curadoria do fundador e Diretor da Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe, João Carlos Silva, o À Baiá da Bô (antigo Café Baía) acolherá exposições de três artistas sãotomenses – René Tavares, Kwame Sousa e Eduardo Malé. Os artistas apresentam trabalhos de fotografia, vídeo e escultura, especialmente criados para esta ocasião, e que tratam de temas como problemas ambientais, identidade e história do país.
Exposição na Roça Água Izé
Na Roça Água Izé, na antiga fábrica de óleo de palma está a nascer A FACA – Fábrica das Artes Ambiente Cidadania Activa, que está a trans(f)ormar a comunidade de Água Izé. Segundo o seu fundador, João Carlos Silva, trata-se de uma “faca” cultural que pretende “cortar” a pobreza na Roça Água Izé e arredores. Inclui artes visuais, artesanato, design, moda, decoração, ambiente, música, teatro e cinema, sendo ao mesmo tempo, um meio de geração de sustento de muitas famílias da comunidade, que está totalmente engajada neste projeto.
Conferências
Para o fim de semana de abertura da N’GOLÁ estão previstas duas conferências. A primeira acontece na sexta-feira (27 de julho), em colaboração com a Design Indaba, promove debates sobre inovação criativa, estando dividida em três painéis: a digitalização, a expressão da identidade e a próxima geração Africana. A segunda realiza-se no sábado (28 de julho), subordinada ao tema “O Futuro de São Tomé e Príncipe” e conta com oradores como o Diretor do Turismo Hugo Menezes, o Diretor da Bienal João Carlos Silva, a jurista Edite Ten Jua, a economista Jessica Neves, o Diretor de Marketing da CST Emery d’Alva, e o artista plástico Kwame Sousa.
Oficinas
Gostaria de criar uma impressora 3D? O arquiteto e antropólogo, Séname Koffi Agbodjinou, conduzirá uma oficina na qual os participantes terão a oportunidade aprender a fazer uma impressora 3D a partir de lixo eletrônico.
O artista nigeriano, Emeka Okereke, convidou escritores, fotógrafos e cineastas de São Tomé para uma oficina que se centra na história, realidade e ambiente imediatos da capital sãotomense, com ênfase na interação com os seus habitantes. Os resultados do workshop serão apresentados na exposição da CACAU.
Música
Sábado, 27 de julho, a N’GOLÁ brindará os sãotomenses com performances que acontecerão no Fortinho São Jerónimo. O concerto do queniano Blinky Bill, do togolês Tabi Bonney, da ugandense Kampire, e dos Dj’s sãotomenses Dj Josemar e Dj Anjo Delax.
O rapper Valete, que tem fortes raízes sãotomenses, virá de Portugal para atuar no palco da bienal, no mesmo local, no dia 10 de agosto.
Cinema
Com a N’GOLÁ chega finalmente a São Tomé e Príncipe, o aclamado filme da realizadora queniana Wanuri Kahiu, “Rafiki”, que significa “amigo”. O filme conta a estória de amor e amizade entre duas meninas sob pressão familiar e política, abordando a questão dos direitos LGBT no Quénia.
Sobre a curadora
“Sempre acreditei na necessidade de (re)imaginar o mundo atual, de oferecer perspectivas alternativas, e no poder da arte como catalisador para criar mudança social. Eu sempre tive fé no poder da participação social e da (inter)ação crítica, e no quanto isso pode contribuir para um futuro melhor.” – Renny Ramakers
Esta é a visão da curadora da N’GOLÁ, Renny Ramakers, que trabalha como crítica e curadora independente, e dá palestras no mundo inteiro. Ela fez a curadoria de vários eventos e, como crítica, contribuiu para revistas e catálogos internacionais, e escreveu também vários livros. Ramakers foi nomeada como uma das “150 mulheres que agitam o mundo” pela revista americana Newsweek, e recebeu as honras reais na Holanda pelo seu trabalho.