A cultura de São Tomé e Príncipe é enraizada em tradições que ecoam através do tempo. Uma parte fundamental dessa cultura é o Danço Congo, uma dança tradicional que incorpora elementos de ritmo, música e movimento. O Danço Congo, uma das mais importantes manifestações culturais de São Tomé e Príncipe, é uma tradição enraizada que remonta a era colonial, embora seja difícil estabelecer uma data precisa, dado que é uma cultura transmitida de geração em geração. Essa expressão artística, enfrentou proibições e repressões durante o período colonial em alguns casos, forçadas a adaptarem -se ou a desaparecer.
Estivemos à conversa com Onore Soares, um pescador e capitão do Danço Congo de Pantufo, que nos contou a sua história, a sua paixão pela dança e a seu compromisso em preservar a cultura são-tomense.
O vínculo de Onore Soares com o mar começou cedo. Aos 10 anos, o seu pai levou-o para o mar, ensinando-o a pescar. No entanto, aos 15 anos, perdeu o pai e teve de assumir a pescaria sozinho. Esse começo humilde moldou a sua infância e adolescência, mas ele logo descobriu outra paixão que moldaria o seu futuro, o Danço Congo.
Desde os 10 anos, quando começou a frequentar a escola, Onore interessou-se pelo Danço Congo. Entre uma variedade de opções, como teatro ou futebol, ele escolheu a dança. Surpreendentemente, dos muitos jovens que começaram essa jornada com ele, ele foi o único a permanecer fiel à dança. Essa dedicação tornou-se um aspeto fundamental da sua vida.
Engajamento dos Jovens no Danço Congo
Segundo Onore, os jovens ainda se interessam pelo Danço Congo. Apesar dos desafios enfrentados por ele e pelos seus colegas, a dança tradicional ainda mantém o seu apelo entre as gerações mais jovens em São Tomé e Príncipe.
Contudo, Onore expressa a sua preocupação com o facto de a cultura são-tomense estar a perder-se devido à falta de investimento.
De acordo com o animador cultural, Luís Morais, existem vários grupos ativos em diferentes regiões, incluindo Neves, tais com o Minimiziense e a Aliança Nova, Pantufo com o grupo masculino Vera Cruz e o grupo feminino, Almeirim com o Danço Mini Carrossel, Angolares com o 30 de Setembro e o Ribeiro Afonso, e Ototó.
No entanto, existem também cinco grupos extintos ou em vias de extinção, como Praia Gambôa, Guadalupe, Ponte Graça e Bobo Cativo.
Onore disse ao STP Digital, que ocasionalmente, tem recebido apoio de Portugal, porém o capitão do Danço Congo de Pantufo disse que são necessários mais recursos para preservar plenamente a nossa rica herança cultural.
“Muitos participantes têm deixado o grupo devido a falta de materiais”, explicou Onore.
Um Defensor da Cultura São-Tomense
Para além da sua dedicação ao Danço Congo, Onore é um talentoso ator, cantor e bailarino. Costuma participar em eventos como o Carnaval tradicional, o Trundu. Ele também participou como protagonista no filme “Sulu S´aua”, uma produção portuguesa, que estreou em Portugal e São Tomé este ano.
Onore revelou que o Danço Congo de Pantufo apresenta-se em festas locais e ocasionalmente em outros eventos. Embora o grupo ainda não se tenha apresentado em outros países, ele já viajou como bailarino para lugares como Taiwan, Japão, Argélia e Portugal.
Enquanto Capitão do Danço Congo de Pantufo, Onore desempenha um papel vital na preservação da cultura são-tomense. O governo tem fornecido algum apoio ao grupo desde 1983, o que inclui recursos como figurinos e tambores. No entanto, a falta de materiais ainda tem sido um desafio para o grupo.
Passando o Bastão da Cultura para as Próximas Gerações
Quando questionado sobre a sua mensagem para os jovens e para os são-tomenses em geral, o pescador ressaltou a importância de proteger a cultura nacional. “A nossa cultura é o meu bilhete de identidade”, afirmou Onore emocionado. O artista está determinado em continuar a lutar pela preservação da cultura e passá-la para as gerações futuras, incluindo o seu próprio filho.
Além das suas outras responsabilidades, Onore também compartilha o seu conhecimento com as gerações mais jovens. Ele visita a escola de Pantufo, onde ele mesmo estudou quando criança, para ensinar às crianças a arte do Danço Congo.
“Atualmente, muitos jovens e crianças participam no Danço Congo sem entender o seu significado e história. É crucial educar a população sobre a história, origem e significado dessa manifestação cultural.” – disse Onore Soares.
Durante a entrevista, cada pessoa que passa, o pescador não deixa de cumprimentar com um “leve leve”. A história de Onore é uma inspiração pela sua dedicação à preservação da cultura são-tomense e o seu compromisso em transmitir o seu conhecimento com as gerações futuras. Um exemplo notável de como a cultura pode ser uma força unificadora e enriquecedora nas nossas vidas.