Cultura S. Tomé e Príncipe

Tela Digital promove Primeira Mostra de Cinema nas Escolas Secundárias de São Tomé e Príncipe

Decorreu de 9 a 18 de Janeiro a primeira Mostra Itinerante de Cinema e Direitos Humanos que percorreu 7 escolas secundárias de São Tomé e Príncipe. A mostra levou aos alunos a reflexão sobre as temáticas patentes nas curta-metragens exibidas e sobre os direitos humanos.

O alinhamento das atividades consistiu, primeiramente, na exibição de filmes, seguida de debates, e por fim distribuição de lanches para alunos e professores. Em cartaz estiveram os filmes: “Chama-me Maria” de Jéssica Lima, “Dona Mónica” de Carlos Yuri Ceuninck, “Mina Kiá” de Katya Aragão, “Mudança” de Welket Bungué e “Rã” de Ana Flávia Cavalcanti.

A Mostra Itinerante de Cinema e Direitos Humanos “surgiu da necessidade de se falar sobre os direitos humanos com a potencial próxima geração de líderes de São Tomé e Príncipe. É importante conhecermos os nossos direitos para que sejamos capazes de identificar eventuais violações. Os filmes constituem um excelente meio de transmitir mensagens, sobretudo com os mais novos, e provocar o diálogo sobre estas questões” disse Katya Aragão, Diretora Executiva da Tela Digital.

A Mostra teve início no distrito de Caué. Tantos os professores como os alunos da escola secundária de Angolares estiveram presentes e atentos aos filmes.

“Essa atividade é boa porque desperta consciência das pessoas. Fazer com que os alunos despertem em si, que eles têm direitos. Penso que a atividade foi boa e para mim deveria haver mais dessas atividades em várias escolas”, disse António Semedo, professor de Física na escola secundária de Angolares.

Karen Pereira, 17 anos, aluna do 12º ano da escola secundária de Angolares disse:

“Achei uma iniciativa muito boa. Espero que ela não pare por aqui. Gostei muito e aprendi imenso. Conheci mais de perto a realidade de São Tomé, e entendi melhor as coisas que eu sabia ou ouvia por aí”.

Segundo os alunos dessa escola, nunca houve atividade dessa natureza com os alunos. Para eles é importante que haja mais atividades desse género, e que pudesse envolver mais alunos e professores e a própria comunidade em geral.

O aluno Ricardo Silva, de 16 anos, provou estar atento as lições dos filmes quando disse:

“Mesmo aqui em nossa zona tem muitos casos disso. Quando os homens agridem as mulheres elas falam “se eu vou queixar ele, quem vai dar-me de comer!”. Então elas ficam com medo de queixar. As pessoas de Angulares não gostam de meter em confusão, é por isso. Gostaria que fizessem mais atividades, mas, que convidassem as pessoas mais crescidas (pessoas da comunidade). Para elas aprenderem e verem que por não queixarem, as coisas podem acabar mal.”

Lígia Santos, Assessora da Ministra de Educação Cultura Ciências para a Comunicação Cultura e Cooperação, esteve presente na atividade do dia 10 de Janeiro na biblioteca do Liceu Nacional. A atividade desse dia, contou com a presença de mais de 60 alunos e o gestor social e escritor, Ivanick Lopandza, foi quem moderou o debate com os alunos.

“Acho que é uma atividade importantíssima, na medida em que retrata dos aspetos que acontecem hoje e são muitos chocantes. E quando há atividades que vêm contrariar ou que vêm trazer mensagem para que os alunos acatem o que está se passando, e desde muito cedo tentar fazer algo para a mudança de comportamento, é uma iniciativa louvável”, disse Lígia Santos.

De acordo com Lígia Santos, os filmes têm uma componente “pedagógica na medida em que os alunos possam saber qual deve ser comportamento das pessoas quando as mulheres estão a ser ameaçadas, quando as mulheres se sentem agredidas, para não se calarem, para apelar as entidades, para que façam alguma coisa de modo a evitar a situação.”

“Acho boa iniciativa. E sim, deve haver atividades como essas, de modo a familiarizar os alunos e incutir neles os bons hábitos, bons costumes e a reação que eles devem ter, portanto, quando deparam com situações de género”, concluiu a Assessora da Ministra de Educação.

Com o auditório do Liceu Mé Chinhô cheio, os mais de 100 alunos se envolveram no debate moderado pelo jornalista e jurista santomense, Carlos Barros Tiny. O mesmo sucedeu no auditório do Liceu Maria Manuela Margarido onde o debate foi moderado por Calisto Nascimento, Diretor do Instituto da Juventude.

 

“Eu gostaria que outros alunos também recebessem essas informações que recebi na atividade, porque fiquei a saber mais e a conhecer mais da nossa sociedade em geral” disse Lucínia dos Santos aluna do Liceu Maria Manuela Margarido.

Na escola secundária de Neves e de Ribeira Afonso, os debates foram moderados pela Diretora Executiva da Tela Digital, Katya Aragão. Para alguns alunos, esses debates foram pertinentes porque envolveu até mesmo os alunos mais calados das salas de aulas.

Normalmente, a minha colega que não fala assim com outros colegas, hoje ela teve essa coragem para falar.  E ela não falou para si ou com duas pessoas, ela falou com a turma toda, e eu gostei”, disse Rosa Ferreira aluna da escola secundária de Ribeira Afonso.

A última sessão da mostra realizou-se na Região Autónoma do Príncipe no dia 18 com estudantes da Escola Secundária Padrão. As atividades decorreram no Centro de Formação Protásio Pina e o debate contou com a moderação da psicóloga, Ketty-Keila Borges.

“Eu recomendaria esses filmes para outras pessoas sim, porque eu gostei. No caso de Mina Kiá, mostra que ela teve força de vontade e aguentou tudo, e as coisas depois correu bem para ela”, disse William dos Santos, aluno da escola secundária de Padrão.

Assim como os alunos, os professores também demonstraram a sua satisfação com os resultados das atividades e os feedbacks que receberam. A organização pretende levar cinema para mais escolas do país.

“Foi muito desafiante por causa de alguns constrangimentos e limitações típicas do nosso país. Contudo, fazemos um balanço superpositivo da Mostra.  Levar os filmes às escolas, ver e ouvir as reações dos estudantes, debater ideias com eles foi muito enriquecedor para nós também. E fizemos questão de oferecer lanches em todas as escolas porque sabemos que, infelizmente, muitos só conseguem fazer uma refeição por dia. Pretendemos voltar a realizar a Mostra no próximo ano e chegar a outras escolas do país. Esperamos poder contar com mais parceiros a nível local. Está na hora de nós mesmos abraçarmos as nossas causas” concluiu Katya Aragão.

A Mostra Itinerante de Cinema e Direitos Humanos é uma iniciativa da Tela Digital, financiada pela Movies That Matter, organização holandesa com sede em Haia, que quer alargar os pontos de vista sobre os direitos humanos.

 

Sobre o Autor

Jaquilza Gomes

Jaquilza Gomes é licenciada em Língua Portuguesa pela Universidade de São Tomé e Príncipe (FCT/USTP). Participou na criação da obra conjunta “Ilhas de Palavras”. Nas horas livres dedica-se ao desenho, escrita, poesia, contos e reciclagem.

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